sábado, 21 de junio de 2008

detalhe porteño

Deliciosos detalhes porteños: aproveitando o ambiente de rua (meaning: manifestacao politica, e das grandes!), um senhor muito esperto faz da paragem de autocarro um botequin de choripan (o tipico e delicioso pao...com chorizo!)
Fogueira acesa, o chorizo bem pendurado, e comeca o pregao.

Que mais se pode dizer...?

viernes, 20 de junio de 2008

Cacerolazos

Cacerolazo: do substantivo cacerola; panela. Forma de protesta muito deles. Há dias em que comeca uma, numa janela de uma cozinha distante. E em nada, em todo o bairro uma chuva metalica rebombante de 'pim pim pim' 'pam pam pam' 'poim poim poim', e comeca o cacerolazo. Tambem ha gente que sai a rua com as panelas, e pelas quadras fora vai espontaneamente convocando gente a juntar-se - assim comecaram muitos cacerolazos massivos na Cidade de Buenos Aires, desde que comecou o conflito do Campo.
É uma forma de manifestacao pacifica que 'nao mata' mas moi muitissimo..... e é isso que se quer!
http://www.youtube.com/watch?v=bEHcE18HIiY&feature=related

http://www.youtube.com/watch?v=N0GXzhhMuwc&feature=related

(imaginam a cidade afogada neste barulho?? Ouve-se em TODA a Cidade, e por isso chama a crescer o cacerolazo em toda ela... e é imposivel nao ouvir, mesmo vivendo na outra ponta. E é impossivel nao perceber porque se lo hace)

(nao liguem à musica, percebam as imagens)
http://www.youtube.com/watch?v=0vbk9_m7A_M&feature=related

(ah!, o 'grupo de choque' do governo sao os piqueteros, liderados pelo sindicalista D'Elia, que é o primeiro tipo que se ve na foto a pegar um soco num manifestante - sindicalista que por sinal, apoia geralmente a presidenta, e que dois dias depois, nao estava na prisao, senao no palco de discurso da presidenta, ao lado da mesma senhora. Chocante.)

Fight Club, round explicativo

Nao sei como nunca cheguei a falar disto. Ë o tema mais badalado desde que cheguei de viagem, tópico de todas as mesas de café ou de jantar, ouvido de passagem nas ruas, nas casas, nas noticias. E não se trata só de encher as orelhas de mediatismo: há séria gravidade em tudo isto.
Bom. Comecemos (nem sei por onde…).
Cristina Kirchner assumiu a presidência em Dezembro – e todos pensavam que seria uma mandato tranquilo, 4 anos mais de uma relativa estabilidade (lembro a crise de 2001 e os 5 presidentes num mês, a politica argentina é qualquer coisa entre um thriller psicológico y um filme de acçao e suspense…) que começou com o anterior presidente, curiosamente, também seu marido, Nestor Kirchner (já aqui, há muuuitas teorias de esquemas e estratégias conspirativas – mas hoje o tema não é esse).
Em Março, saiu do governo uma medida de retençoes moveis para os productores de cereais.
Pausa! Algumas consideraçoes importantes…
i)os cereais nao são só ‘os cereais’. São um país que vive muito da exportacao destes e de outros (er... carne?? Campo meaning riqueza, não é ca o nosso modesto Alentejo)
ii) uma retençao é como um imposto, com a diferença que se abate do total das rendas, enquanto o imposto se calcula da diferença entre ganhos e respectivas despesas necesarias.
iii) por estes lados federais, o fruto dos impostos volta a província em questão, para ser investido – e as províncias num pais com esta dimensão tëm a importância de pequenos ‘países’; já as retençoes vão para os fundos do governo, que faz basicamente o que lhe apetece com esse dinheiro. Ou seja, Pepito, agricultor de Neuquen, ve metade da sua producao ‘voar’ 3mil km, sem saber se a ‘redistribuicao’ de riqueza vai fazer esses 3mil km de volta.
(e outra nota: sem fazer acusaçoes… há muuuita corrupçao por aqui. Muuuuuuita)
iv) já havia retençoes aos cerealenses. De 36% (pouco?). E esta medida vem subir para quase 50% (sabendo que depois vão recair também os impostos no que sobra).

Bem, a discussão é extremada em dois pólos e pode ser entendível das duas maneiras.
O campo sente-se literalmente roubado. E claro, eu até os percebo… Se ganham 100 y gastam 20, dá igual, sacam-lhes 50 pro governo (mais o que sai com os impostos), sem saber muito bem onde vão parar.
Depois o governo pode ter os seus pontos de vista: o campo ganha bem aqui na Argentina (pudera, já viram a dimensão deste pais?), são um grande exportador internacional, e por outro lado, há gente a morrer de fome cá dentro. O objectivo bem intencionado é a ‘redistribuiçao’. Claro, mas de boas intenções está o... sistema politico cheio.
Bom, já ouvi muitas vozes. E de facto, nao consigo explicar tudo o que esta implicado, muito menos em linhas de blog.
O problema é que as duas partes se aferraram nas suas posturas, e daí nao saiem, gerando uma sucessão de conflitos e choques de carril. Já pra nao dizer que dividiram o país em vozes, apoio y posicao.
Primeiro, os cortes de estradas. Os camioneiros, aliados ao Campo, mantiveram o país ‘domiciliado’ durante quase um mês – desabastecimentos, gente sem poder ir de um lado ao outro, contratos internacionais incumpridos, comida estragada nos contentores, dizem que toneladas de leite deitado ao chão, etc.
O Governo abriu a mesa de conversacao depois desta primeira mostra de força – e já ia um mês tarde.
Não chegaram a nenhuma conclusão, enrolaram, um ministro que estava contra as retençoes foi para a rua, começa a pressão sobre os governadores das províncias para não apoiar o campo, e os coitados entre a espada dos superiores e a parede dos eleitores, o mesmo Campo que os elegeu e contra o qual os querem colocar.
Não chegaram a conclusão nenhuma. E por isso, O Governo fez birra e acabou com a converseta (politicamente correcto, o ‘diálogo’), e o Nestorzinho veio dizer que o campo nao se podia aguentar eternamente em páro, e que eventualmente chegariam a exaustao (fiava-se, entao, nos dias de frio infernal que varreram o país, nessa semana).
Bem, manifestaçao de um lado era reforço da posiçao do outro; o retomo dos páros trazia um Governo mais intransigente; e isso provocava mais cortes de estrada e desabastecimento – vão ver a pinta das verduras da mercearia e percebem o que quero dizer. A ultima vez que fui ao supermercado, havia um limite de 3 pacotes de leite por carrinho – tudo em prevencao ‘’de piores tempos’’.
E provocaçao puxa beliscão, cumpriram ontem 100 dias desde que este conflito começou. Todos os dias ganha proporçoes desmesuradas, e já não importa quem tem razão: já se afincaram tanto nos seus Sims e Nãos, que é quase impossível voltar atrás. Como uma discussão entre orgulhos que aceitam tudo – ate instalar o caos num pais – menos ceder.

E agora a senhora presidenta vai levar isto ao Congresso, onde tem a maioria necessaria para fazer lei da sua decisao, e acabar com os 'uis' - sem perceber que nao é um problema de legalidade, e que essa questao formal nao vai convencer o Campo.
A agravante, independentemente de quem tem razão, é que uma das partes é o Governo, é o Estado – que não se pode comportar como um miúdo pequeno, e cuja sobérbia e forma de actuar já me parece excessiva – e aí perde toda a razão ou a parte dela que poderia chegar a ter, ou nao. E nisto, me tornei proCampo convicta.
Por melhores que sejam as intencoes do Governo e em especial de Cristina, e por mais razão e justiça que possam ter os seus actos – e está visto que a questao não é pacifica, ou o país não estaria em pé de bandeira – é inadmisivel que manejem o tema com tamanha cara fechada, orgulho de pau, nariz ao céu. São o Estado, por dios!! Não têm que criar problemas, mas resolve-los, y há momentos em que têm de deixar de lado o papel de Pai, e cumprir o de mero mandatário.
Nao se sabe muito bem onde isto vai parar. Mas se continua assim, a economia da Argentina vai outra vez bota abaixo, e as relacoes Governo/governados não voltarao a ser as mesmas. Já para não dizer que não consigo comprar uma alface decente há dois meses, e tenho que ir comprar leite dia sim dia não.

viernes, 13 de junio de 2008

Meu Fado, meu Tango

Uma destas noites fomos ao Noutorius.
E voltei a descobrir Buenos Aires – a sesta já ia larga! Maravilhosa quotidianiedade, tudo bem, mas toca calçar os sapatos e calcorrear um pouco mais esta Movida, que ainda tem muito alimento a dar ao Espanto, e afinal, o puto chinês quase já anda sozinho!
O nome era meio duvidoso – Karina Beorlegui -, mas o panfleto que a anunciava, dizia o seguinte:
‘’El Fado es al Tango como Lisboa a Buenos Aires. Nacieron para la misma epoca, en los distintos puertos, y tienen ese aire de nostalgia, tanto en lo poetico como en lo musical…’’
Sim. Sao chorados da mesma forma, desgarrados com as mesmas palavras de rua, humor callejero, e nos dois os desamores, as partidas, o amor a si mesmos (‘ai o tango’ se tangueia, ‘ai o fado’ se fadeia…), a Tristeza encarada com trágica naturalidade, e afinal, em nome da Canção, ela tem um sentido, e até um certo regozijo.
Mas más allá da verdade – ou não – destas palavras, nada me preparou para o que ia ouvir.
A minha expectativa de um tango com alguns rasgos a lembrar guitarra portuguesa, chocou de frente com a primeira nota cantada pela pequena do microfone.
Uma Casa Portuguesa.
Uma argentina a cantar no Português mais polido que tinha. Uma argentina de sangue a cantar fado com a alma. E aparte algumas sílabas mais difíceis, em que se desmascarava a argentinidade de origem, aí estava ela – a cantora – e aí estava ele – o fado. Em Português.
Entre um Tango e um Fado, metia-se com as mesas (num estilo muito Maia Vares), pedia aprovação às portuguesas presentes – eu e a Marta -, arrancou uns amigos da assistência para o banco do piano, num género improvisado; da profunda e quase solene entrega com que cantava rapidamente descia à terra com risadas espontâneas e macacadas de miúda pequena.
E bom, entre um tango e um fado, meu coração balançava.
Bom, não relativizemos tanto, um tango é um tango (puff…..) e um fado é o Meu fado.
Quase me ponho a chorar com as primeiras palavras em português – recordo que desde Dezembro não tengo comunicação diária em português, e o castellano tomou lugar (perguntem a minha mãezinha como me ouve ‘falablar’, dá vergonha ao dicionário).
E o fado… É Fado. E mais o é quando se está longe (não é Miguelinho? Parece coisa de sangue!)
Bom, e já que estamos entre Fados e Tangos, saibam que dia 11 de Junio, a celebrar o dia de Portugal, a Embaixada convidou a um bom Fado, com direito a levar amigos – ‘’vejam, isto é o que eu sou.’’
O xaile, a mão no peito, a guitarra familiar, os fados que tocam na pele e nas Saudades, a voz falada em português ao publico. ‘’Esta aí a Gente do meu Povo?’’ Sim, estamos. Bebendo as palavras e as letras tão nossas. Ela prometeu-nos dar-nos um bocadinho ‘’dos sons, das formas, dos cheiros, do sal’’ de Portugal… E cumpriu.
Saudade.
Terminamos a noite no El Cuartito da esquina, entre pizzas caseiras e brindes de cerveja de pressão. A minha frente, sentou-se a rapariga que tinha ouvido cantar a noite anterior – acham que ela ia perder isto??
Falamos toda a noite, sobre o Tango e o Fado, o meu, o dela, e os nossos.

E por falar nisso, voltei ao Tango.

viernes, 6 de junio de 2008

mais rapido que a propria sombra

Uno se da cuenta de que o tempo voa, quando a chinesa da lavandaria do bairro que estava gravida aparece com uma criatura ao colo que ja se alimenta a papas.