lunes, 31 de diciembre de 2007

Rápidas da Ruta 40 y Cachi






o unico troco de estrada direito que me permitiu sacar uma fotog




O NORTE COMO ELE É!!


Ruta 40

O norte argentino.
As peles mais escuras, os cabelos mais negros, mais pesados. Os traços mais indios.
As ruas sao diferentes, baixas rentes ao chao, cheias de pò. Amarelas. Há caes rafeiros perdidos nas esquinas e cafes de estores fechados ao meio dia, porque o sol esbofeteia. Quase imagino bolas de espinhos a atravessar as calles. (um abraco juridico hehe)
Parece que mudei de país, sem dar por isso, o Norte é definitivamente diferente. Ou seja Buenos Aires esse mundo aparte dentro de uma Argentina de outras cores.
Estamos nove, vários duos de viagem com estes destinos comuns: eu e a Ainoa; Ivan y Pablo (argentinos); Melanie, Jennifer y Carole (francia); Carolina y Natalia, duas porteñas conhecidas no caminho.
Confiamos neles, os chicos, que ja estiveram no Norte, e nos levam a fazer uma boa recorrida - imaginamos porque voltaram, com apenas 15 dias uteis de férias, aos mesmos lugares de outros anos.
Que o Norte é uma delicia, e todas as estradas acabam num pueblo charmoso. Mais precisamente ( onde vamos), Salta capital ou Salta la Linda, Cachi, Cafayate, Purmamarca y Tilcara.
Decidimos alquilar carro e lancarmo-nos na Ruta 40, uma estrada de terra e calhau solto no meio da montanha, até alguns pueblos mais reconditos. 400 km de estrada a pedir dois dias inteiros ao volante, porque o humor frio das Pampas é aqui o feitio mais caprichoso de uma naturea espevitada.
Cachi. Cafayate. Encantadores. Pueblos mínimos, colados ao chao, a lembrar terras perdidas de um mundo de índios e cowboys. Cheira a empanada frita em cada porta - e a humita e a tamal, que sao uns típicos de acá, o primeiro de milho, o segundo de carne, envoltos numa folha de uma planta qualquer, casca de algo. Há camionetas e bicicletas de latao enferrujado, e pó, pó, pó. As crianças sao lindas de morrer - os narizes ranhosos cheios de terra e uns olhos negros de índios, enormes, uns cabelos espessos cor de carvao.
Igual, fueran estos umas aldeias sem gracola nenhuma, e a Ruta 40 seguia valendo por si.
Capaz seja o caminho mais incrível que já calcorreei em vida minha.
A paisagem é esquizofrénica. Entramos na montanha verde-imenso, verde absurdo. A estrada é ainda de alcatrao, em ziguezagues que nao deixam adivinhar a intencao da proxima curva. A cada metro, somos engolidos mais e mais. Verde, verde-água, verde-relva, verde-tropa, verde-que-nunca-mais-acaba e sempre mais verde e mais forte.
De repente, numa curva igual às outras, o verde passa a encarnado. A montanha é fogo, sangue, laranja em pó, terra-barro, luz psicadélica de lampada duvidosa.
Uma hora depois chega o deserto - este sim, o faroeste.
O encarnado vermelhao esbate-se num amarelo gasto, árido, seco, agreste. A estrada torna-se mais caprichosa, e ja nao é de alcatrao: terra solta e calhau. Estamos - sim - no tal faroeste, o dos filmes. A estrada entra por desfiladeiros, sai por vales de pedra, passa discretamente ao lado de outros planaltos, entra e sai da montanha, e podem adivinhar-se filmes de índios e cowboys aos tiros e aos gritos montanha abaixo, a sairem de esconderijos de pedra. Há cactos. Em fila, de perfil, grandes, pequenos, ordenados, espalhados, dispersos, a coroar a linha alta da montanha junto ao céu, como uma coroa, e escorregando encosta abaixo.
O folclore salteño na radio cheia de interferencias, a harmonica, o violao, a flauta de madeira, a voz cigana a prender-se nas sílabas continuadas. E cactos, cactos, cactos.
Acábamos em grande. Chegámos ao topo, entramos numa nuvem, parámos os carros, e passou uma musica muito boa na radio. Dancamos dentro da nuvem, nao se via um palmo a frente do nariz, mas estavamos todos tao contentes e tao cheios da Ruta 40, da terra comida e das paragenes onde a vista apeteceu, que nos quedamos feitos tontos no topo da montanha a dancar folclore.

martes, 25 de diciembre de 2007

FUI

Meus queridos,
dentro de meia hora saio de casa. As janelas estao fechadas, o chão varrido, os lencois tirados.
Tenho a mochila a porta de casa, e os ultimos sacos do lixo para descer.
Parto para o norte da Argentina, Bolívia, Peru, Colombia, Ecuador, e se gerir bem o tempo e o dinheiro, acabo em grande no Deserto de São Pedro de Atacama, Chile.
Cenas dos próximos episódios...
Um beijinho enorme a todos,
até JÁ

FUI
(Sorriso estupidamente escancarado)

domingo, 23 de diciembre de 2007

Navidades

Agradeço aos supremos desígnios destes que são os temas climatéricos. Estamos às portas do Natal – hoje é dia vinte três, também aqui – e faz um calor de morte. Passeio-me descalça de calções, as minhas janelas não são fechadas há três semanas, a minha casa tem um ar de verão.
Estamos às portas do Natal, e imagino como está desse lado. As luzes, o reboliço da Baixa, as árvores enfeitadas, as ruas enfeitadas, as músicas natalícias.
Agradeço a ditos supremos desígnios, porque o Verão que estou a viver faz-me sentir longe do meu Natal. Como se não estivesse a acontecer – quem vai ter o humor palerma de espalhar pela cidade neve de algodão e pais natais de gorro e casaco de lã com quarenta graus?
Vamos todos juntar-nos em minha casa dia vinte e quatro, para jantar. Cada um traz o que pode, as meninas já se puseram a inventar iguarias e petiscos, temos musica de Natal, e temos saudades das nossas casas. Não vamos ter presentes, acho que todos sentimos que o melhor que podíamos ter recebido no sapatinho foram estes quatro meses extraordinários, e é comum a sensação de sermos todos os presentes uns dos outros.
Juntamo-nos para celebrar isso mesmo, penso.
Quanto a mim, tenho saudades.
Sinto falta de estar à mesa com a minha família – meus queridos putos, não há barulho ou confusão como a nossa.
E pronto, já cá faltava a lagrimazita ao canto do olho… Fico-me por aqui, senão desato a chorar à parva e estrago outro teclado.
Um Natal cheio de gargalhadas. Um beijinho a cada um.
Feliz Natal.

viernes, 21 de diciembre de 2007

Aperitivo: ostras e caviar (ou boleias e dias de sol)

Uma muito boa viagem-aperitivo!!
Aquela melancolia que andava a picar a cabeça por tudo o que está por terminar agora – tudo o que parte agora de volta às suas casas – deixava o entusiasmo pela Parte Segunda Gran Tour Suramerica meio adormecido.
Por aí veio a importância deste aperitivo, esta primeira picada, para abrir a histeria dos três extraordinários meses que aí chegam. E a verdade é que o senhor lá de cima se encarregou de nos entornar em cima uma mão cheia de não menos extraordinários pozinhos de pirlimpimpim, e os nossos dez dias – meus e da Ainoa – foram recheados de cenas de filme!!
Tudo correu de uma deliciosa forma inesperada! Vejamos.
Claro, tudo começou com a aventura sobre rodas já relatadas. Impossível melhor, mais imprevisível, mais entusiasmante maneira de começar… Chegámos a Montevideo sem tecto certo, e só com um mail incerto enviado na véspera ao Bernardo, um português que estava a estudar lá, e com quem eu tinha estado UMA vez em Setembro, em visita a Buenos, numa jantarada de tugas.
Melhor bom fundo não podia ser, más bueno com nosotras no podria ser. Não só ligou um milhão de vezes a saber de nós, como nos recebeu em sua casa como princesas, fomos jantar fora, cozinhamos dentro, conhecemos a amigalhada uruguaya – gente más buena, más tranquila… -, e por caprichos e feitios do tempo e de alguma tormenta, voltou a receber-nos de braços abertos quando voltámos fugidas a Montevideo, depois já de termos seguido viagem!
Lá aprendi a tabuada do mate uruguayo – o verdadeiro mate, ao que parece – e aprendi truques, técnicas, y essências. E que o Uruguay é o país mais tranquilo e seguro aqui das redondezas latinas. O que é que isto chama?? /(Lembrem-se do factor baixo orçamento e da variante aventura) Hacer el dedo!!!!
Que é como quem diz, aterrar na estrada de manha cedo e estender o polegar. Rasgo extraordinário nr dois: quanto tempo demorou um carro a parar, perguntam ustedes?? Pois entre oito e onze minutos. Uma carripana do tempo da avozinha, de latão enferrujado e madeiras de tinta gasta, caixa aberta e um senhor dos seus sessenta, ar simpático, cor de trabalho ao sol, rugas de muitas histórias. Lá atirámos as mochilas e subimos até à praia mais próxima. Com o vento a despentear cabelos, encostadas nas mochilas, e a maior sensação de livre, livre, livre…
Não tardou muito o rasgo nr três, porque depois de um bom dia de sol, conhecemos uns uruguayos na gelataria, e acabamos em casa deles a fazer um belo Asado Fomos acolhidas, mais uma vez, à grande e à uruguaya, numa onda de sorte e benditos ‘’logo se vês’’.
E claro, o Cabo… o melhor lugar do mundo. O por do sol, a garrafa de vinho, a ausência de luz, de água, a cabana.

A verdade é que foram dez dias sem pagar uma única dormida, e dez dias das melhores conversas e de um espírito de liberdade, a abrir o apetite para o grande manjar que se segue.
Acabamos em beleza numa última noite em Montevideo, passeando à deriva sem saber que fazer com as últimas horas de dez dias brilhantes… e veio o ponto final perfeito. Noite das Luzes, a praia de Montevideo cheia de gente, e espectáculo de fogo de artificio incrível, com uma banda sonora natalícia a encher a areia e as ruas da cidade. Foi uma lágrima no canto do olho e um inspirar bem fundo de tudo o que ando a viver. Foi um ‘’Feliz Natal’’ sussurrado à minha querida Família, um momento dedicado a cada cara que faz falta, foi uma noite dedicada em silencio aos meus queridos de São Marçal.
Lá voltámos a Buenos Aires, casa.
Mas a nossa Casa espera sempre por nós, não é?
Em poucos dias começo uma aventura imensa!!

Miradas uruguayas

l










domingo, 16 de diciembre de 2007

meu lugar ao sol

Encontrei o meu lugar ao sol neste mundo. Vamos chamar-lhe simplesmente o Cabo – salvaguardo a tranquilidade dos que nele vivem.
Fica escondido atrás de uma duna imensa, numa língua de terra que sai da costa. Carros não entram, cabos de electricidade também não. O jeep da reserva natural leva-nos até lá a bom preço, e passado o declive, primeiros sinais de população – se não contarmos com os dois leões marinhos refastelados preguiçosamente na areia.
São barracas. Romanticamente chamadas cabanas. Semeadas pela encosta da duna, construídas pelos pescadores, pelos hippies, pelos artesãos locais, pelos fugidos do mundo urbano – não é um exercício literário, a população é assim composta. E as barraquinhas de madeira foram mesmo construídas por quem nelas vive. A prová-lo, o clássico musiquear do martelo na madeira, a interromper o som surdo da praia aqui e ali e ali mais ao fundo.




Num seguimento da sorte incrível que tivemos toda a viagem, conhecemos um local que vivia por ali há quatro anos, das pulseiras e outras manufacturas. Que nos deixou ficar na barraquinha dele. Construída das suas mãos também, uns dois metros quadrados de madeira tosca pintada de cores vivas, por dentro uma casa de bonecas, as garrafas-velas, as panelinhas amolgadas, fotografias da família, longe, na civilização, mantas coloridas e gastas, as estantes visivelmente artesanais, a inspirar horas de concentração, e na ‘cozinha’, um mínimo poço – também saído das mãos do nosso anfitrião, Edy -, única fonte de água potável, doce, bebível. E para tomar banho, e para o ‘’autoclismo’’, e para lavar fosse o que fosse.
O pequeno pueblo de cinquenta pessoas é uma descoberta de sobrevivências. E de uma noção de desprendimento impressionante, porque ao lado da metade pescadora, há a outra metade que fugiu para ali há um par de décadas, construiu a sua barraquinha, e ali assentou raízes.
As ruas são de areia, a iluminação de rua limita-se aos farolitos de quem se passeia depois do jantar – umas artimanhas feitas de uma garrafa e uma mão de cera.

Vimos a puesta do sol em silencio, ao brinde de um vinho branco comprado no único armazém de comida do sítio (esqueçamos que o conceito de armazém implica uma certa dimensão) , num estado de alma-cheia Maior, e num dos únicos pontos deste lado do mundo onde se pode ver um por do sol mergulhante no mar – porque é ao contrário, faz sentido, não?? Também disso tinha saudades.

Jantámos camarões recém pescados, porque a pescaria foi farta e o excedente foi distribuído pela população.
Saímos a ver as estrelas que Buenos Aires não tem, que nem Lisboa.
E parti dali com a impressão de ter descoberto um lugar preferido no mundo.
Volto em Março.





sábado, 15 de diciembre de 2007

domingo, 9 de diciembre de 2007

La portuguesa

Partimos Ainoa e eu no barco das oito da manhã de Buenos Aires. Destino? Colónia de Sacramento. A intenção era chegar a Montevideo – uns 200, 300 km depois – de uma qualquer maneira ainda meio incógnita. Pela liberdade de fugir aos bilhetes comprados a distancia com hora e check-in. Por simpatia ao meu estado financeiro, que se prepara com cautela para a gran tour. “A ver que pasa!”

O dia estava bem disposto, o bom sol no ‘convés’ do barco – as duas deitadas com um bom mate e uma boa preguiça lagarta - foi o melhor prefácio de uma semana de Uruguay e ‘logo se vês’.E entre a descontracção de pensar que seguramente conheceríamos alguém tão à nora como nós, ou a segurança, em última instância, da linha da carreira nacional, lá nos aconteceu o inesperado.

Um grupo de motards veteranos, ruidosos, brincalhões, indiscretos. Ao jeito ‘Faro forever’. Tronco nu e t-shirt – preta, obviamente – ao ombro, botas de cano pretas – obviamente -, tatuados de águias e insígnias da Harley Davidson, cintos de igual origem - podiam ser confundidos com um grupo promotor da marca…dos fios no pescoço às camisas, os óculos, as tatuagens… - e claro!, os clássicos lenços de cornucópias!!Meteram conversa com toda a gente no barco, ao seu jeito de putos asneirentos. Nós não fomos excepção. Piada puxa conversa, conversa puxa piada. Lá se sentaram finalmente ao nosso lado com os seus cubanos, e nos contaram um pouco da sua vida de estrada, das viagens – esta agora, a Punta del Este, a um ‘ajuntamento’ da espécie motoqueiro. E num registo de ‘quem lixa quem’ íamos sabendo suas coisas uns pelos outros, ao jeito desbocado - uma graca!!

Lá saltou, a piadas tantas, um ''haha nós levamo-las a Montevideo, claro que sim haha''. Respondemos com um ''sim sim haha'', e despedimo-nos deles no porto - porque as mochilas eram grandes e tornavam as motos em camiões tiro. Vimo-los todos a arrancar do porão do barco rumo à estrada, a deixar um ronco atrás. Seguimos a sonhar em voz alta, 'te imaginas como seria si nos llevaran' y 'que sueno, que locura haha', as cabeças a viajar nos filmes mais incríveis, e no fundo com pena de não podermos simplesmente... ir.

Pois voltámos a encontrá-los à entrada do terminal de autocarros - não havia mochileiros potenciais solidários, nem carros a quem pedir boleias seguras -, um pouco mais à frente, a preparar suas 'princesas' - umas Harleys de cortar a respiração -, equipadas, artilhadas, a aconchegar as malas de franjinhas de lado. Acho que imaginam o que aconteceu, não??



Pues NOS FUIMOS!!!!

Despachámos as mochilas de autocarro e montámos rumo a trezentos km de estrada.

Foram tres horas de vento na cara, ares mais quentes e brisas mais frescas, tres horas de cheiros, a pasto e a campo e a bosta de vaca - vá, há que ser objectivo -, as mudanças sentidas nas caras ao sol, no cabelo em pé; as quinze motas a voar em conjunto como um bando de moscas, borboleteando umas com as outras, mas sempre em bando, e a protagonizar o alcatrão, só nosso. A Ainoa e eu trocávamos risos escancarados de emocao - que aquilo não acabasse nunca - e os motoqueiros conduziam lado a lado e trocavam chistes e piadas. E voltavam a misturar-se, e trocavam a ordem, e seguimos sempre na mesma nuvem de velha cumplicidade destes companheiros de rodas.

O cabelo a voar e a sensação de liberdade, de ''o mundo é todo nosso', e o som dos roncos das Harleys a fazerem-se anunciar em cada troço do caminho.

Entrámos finalmente em Montevideo, capital do Uruguay, triunfantes, acelerámos a marginal até ao fim, fomos espectáculo em todos os semáforos parados, as pessoas olhavam, saludavam, e nós riamos e seguíamos como reis num cortejo de princesas.

E assim começou a minha viagem-aperitivo, desta perfeita inesperada maneira nos lançámos nestes dez dias 'com o vento e sem matemática'.

A minha cabeça já entrou nesta nova onda de volta ao Mundo. E de Harley.

No final baptizei a minha mota, uma Harley branca, linda de morrer. La poderosa?? La portuguesa hahaha!!

viernes, 7 de diciembre de 2007

First round: Uruguay

Meus caros,
Finalmente de férias, um sol abrasador, e a mochila a começar a chamar do pó do fundo do armário.
A minha mente garganeira queria por-me na estrada uruguaya pela costa, entrar no Brasil, ir subindo até ao Rio, para uma passagem de ano em grande e em cheio.
Claro que alguma água na fervura e uma mirada mais ponderada à minha conta bancária me acalmou os ânimos, e decidi ir apanhar outros ares num estilo um bocadinho mais modesto - e muito menos aliciante, mas não menos cheios de aventuras....ahaha o suspense...
Primeiro acto: Uruguay! Donde escribo justo en ese momento. Montevideo City.
Dez dias de liberdade - volto a Buenos Aires para o Natal - sem reservas nem bilhetes, em busca de praias, cabanas e pescadores. Eu e a minha querida Ainoa, a viagem de volta de barco no bolso, e uma grande vontade de aproveitar o sol e a areia nos dedos dos pés. A ideia? O mais economico possivel: dormir onde calhe, fazer 'o dedo ' - ir à boleia, hey!, estou no Uruguay, o país mais tranquilo e mais pacífico da Suramerica. É simplesmente algo que se pode fazer - e voltar a Buenos Aires no fim com uma mão cheia de historietas divertidas,
as barrigas bem bronzeadas e a cabeça já em pré estagio de vontade e preparação para a Gran Tour que se avizinha.
Vamos com o vento e sem matematicas.
Para um cheirinho da minha grande Bolívia-Peru-Ecuador-Colombia, que está para breve. E porque é bom estar de férias!
Volto no Sábado!
Novas aventuras já já!

domingo, 2 de diciembre de 2007

Ya fue...

Meus queridos. E o primeiro bocado ya fue.
Acaba agora a primeira parte desta minha aventura. Acabam as aulas, acabou a chuva, acabaram as meias (enfim). Começam as primeiras despedidas, as primeiras partidas com a sensação do ‘pode ser que nunca mais te veja’. Novas gentes chegarão, novos ares nesta Cidade de muitos.
Começam as viagens de todos, cada um a atirar-se para suas estradas e suas mochilas. Buenos Aires esvazia-se no Verão. Vão aos poucos, a Cidade vai ficando mais vazia sem dar por isso.
Vai custar um bocadinho. Vem agora os primeiros ares de saudades, desta primeira boa fase– que constante, isto da Saudade, ‘oh gente da minha terra’.


Sinto-me confortável nesta vida. Gosto de acordar e sentir-me um bocadinho porteña, saber que estou a deriva, sentir-me mais livre que nunca.

Gosto do que aprendi aqui, das pessoas que me mostraram outros lados do globo e do Homem, lados de si; das manias, das costumbres, gosto das pronúncias – adoro as pronúncias! - , e das saudades que cada um tem do seu país. Gosto da boa mescla que somos todos.

Quatro meses volvidos, e sinto a cabeça mais cheia, mais aberta. E a agenda. Apetece-me parar o tempo. Está a correr feito parvo…

Começa por agora a parte II: volta à América Latina em três meses e meio.

sábado, 1 de diciembre de 2007

Dois lados da mesma (?) moeda

E assim é Latinoamerica. Diferente.
Tinha o jornal na mão e um Chavez que não compreendia. Continuo sem compreender muito bem, mas já tenho mais luzes ao palco das coisas.
Chavez chama ao ex de Espanha fascista, em plena Cumbre Internacional. Chavez discursa aos media contra Espanha e seu sistema, contra o colonialismo e seus protagonistas. Cortou relacoes com Espanha e com a Colômbia. Chavez fechou um canal de televisão. No país de Chavez não há BDs satiricas no fim dos jornais. Chavez cultiva a sua personalidade de líder salvador ao jeito antigo. Chavez faz o que quer e diz o que lhe apetece. Chavez vai por ele, e nesse ‘ele’ presume a voz de muitos. Afirma a doutrina do homem novo, calculo eu, inspirado nele próprio. E agora no próximo domingo, vai a referendo uma tal de proposta de reforma constitucional(apresentada e defendida por ele), que lhe dálegitimidade passada a papel timbrado para se manter no cargo ad eternum. Que aumenta o mandato para 7 anos, que admite recandidaturas sem limite, que concentra mais poder no Presidente . Que abre espaço a uma propriedade privada desprotegida, a uma noção de liberdade de expressão mais relativa. Ah claro, o senhor não é tonto: na mesma reforma em bloco, vem a mudança da jornada laboral de 8 para 6 horas.
É um quilombo, esta reforma, tem uma dimensão…
Pergunta: Chavez é um (potencial) ditador?
Resposta de um americano: sim, sim, sim. Totalmente. Não lhes cabe na concepção um tipo tão… presente (já ouviram falar do politicamente correcto?). Nem que existam pessoas a viver do estado. Nem que não possam despedir as pessoas so porque sim, nem que haja censura aos media.
Resposta de uma voz argentina, mais, ou menos original, still surpreendente à minha mentalidade europeia: Y que les importa a los venezuelanos la liberdad de expresion? Si hay trabajo, apoyo social, si las clases obreras y trabajadoras tienen condiciones… que es la liberdad de expresion en todo eso?? Que importa si el tipo ese se queda en el poder toda la vida?? El pueblo esta contento…
Calma. Arrisco-me a duas coisas, a entrar por este caminho. Primeiro, a dizer algumas asneiras, na minha ignorância de quem acaba de conhecer o mundo latino como ele é. Limito-me então a debitar opiniões inesperadas, vozes de cá, parciais e contextualizadas. Mas que conhecem a historia, mais ou menos condicionadas pelo meio, pela posicao, e reconhecem os feitos, as necessidades, as mentalidades, as culturas, e tudo o que por aí se pode concluir.
A segunda é a tornar-me profundamente aborrecida aos meus queridos com este tipo de contos. E quanto a isso, sorry. Mas vão ter que me gramar. Truth is, o meu bichinho jurídico-político anda agitado com tantos novos lados de uma cultura. Saltam-me à cabeça traços destas gentes como sociedade. Mais profundos, mais políticos, mais sociais, mais enraizados, e mais difíceis de apreender à primeira vista – é muito mais fácil dar-me como apaixonada por Buenos Aires por si, que entender afinal a alma da Suramerica. Seems obvious.
Então, parece que o dito senhor fez muito bem a muita gente – dizem alguns, que eu não sei, e tenho as minhas reservas. E que levanta alma venezuelana. ‘Filhos de Bolívar’. E depois, a guinar noutra direcção, um venezuelano no La Nacion: Chavez só é bom para quem trabalha para o Estado.
E Chavez quer iniciar uma verdadeira reforma socialista – seja lá o que isso queira dizer nas suas entrelinhas.
Por outro lado, temos a Bolívia, que esta entalada numa reforma da Constituicao mal amanhada num processo duvidoso, com as mesmas bandeiras: aumento do mandato, recandidatura ilimitada. Sublinhado o modelo interventor. E dois terços do país – os sectores que detem o poderio económico – em greve geral, por isso. Ecuador (ou São salvador? Não tenho aqui o jornal…) tem uma reforma constitucional em curso também… vá-se lá saber em que direcção(!).
E há o outro lado, o americano, que não percebe isto do Estado de Bem Estar, que o despreza, o atribui à preguiça da gente. Isto a propósito de uma conversa ontem com os dois lados em cima da mesa.
No seio de uma Suramerica rebelde (como próprio Chavez se denominou), com el Che em mente, busca-se um modelo de Estado-pai, Estado central, Estado que sai das suas linhas mínimas para se expandir ao detalhe, aqui melhor considerado que a busca de um modelo mais liberal. A classe média não existe, e os fossos entre os ‘muito muito’ e os ‘muito pouco’ são os maiores do mundo… e surge o antinorteamericanismo, antiliberalismo.
A questão é: que duas visões tão diferentes, que conceitos tão antagónicos. E que contextos tão incompreensíveis para cada lado contrário. Sinto-me a descobrir uma nova ‘guerra fria’ escondida debaixo do chão – passe a comparação sem querer ir mais além.

E Chavez, afinal...?
Quero tentar perceber um bocadinho melhor isto da política por aqui… é tudo tão diferente…
Está confuso e está disperso. Mas também a minha cabeça em todo este palco. Vou tentando perceber. Vou comprando o jornal todos dias, e metralhando as pessoas com perguntas.