lunes, 31 de diciembre de 2007

Rápidas da Ruta 40 y Cachi






o unico troco de estrada direito que me permitiu sacar uma fotog




O NORTE COMO ELE É!!


Ruta 40

O norte argentino.
As peles mais escuras, os cabelos mais negros, mais pesados. Os traços mais indios.
As ruas sao diferentes, baixas rentes ao chao, cheias de pò. Amarelas. Há caes rafeiros perdidos nas esquinas e cafes de estores fechados ao meio dia, porque o sol esbofeteia. Quase imagino bolas de espinhos a atravessar as calles. (um abraco juridico hehe)
Parece que mudei de país, sem dar por isso, o Norte é definitivamente diferente. Ou seja Buenos Aires esse mundo aparte dentro de uma Argentina de outras cores.
Estamos nove, vários duos de viagem com estes destinos comuns: eu e a Ainoa; Ivan y Pablo (argentinos); Melanie, Jennifer y Carole (francia); Carolina y Natalia, duas porteñas conhecidas no caminho.
Confiamos neles, os chicos, que ja estiveram no Norte, e nos levam a fazer uma boa recorrida - imaginamos porque voltaram, com apenas 15 dias uteis de férias, aos mesmos lugares de outros anos.
Que o Norte é uma delicia, e todas as estradas acabam num pueblo charmoso. Mais precisamente ( onde vamos), Salta capital ou Salta la Linda, Cachi, Cafayate, Purmamarca y Tilcara.
Decidimos alquilar carro e lancarmo-nos na Ruta 40, uma estrada de terra e calhau solto no meio da montanha, até alguns pueblos mais reconditos. 400 km de estrada a pedir dois dias inteiros ao volante, porque o humor frio das Pampas é aqui o feitio mais caprichoso de uma naturea espevitada.
Cachi. Cafayate. Encantadores. Pueblos mínimos, colados ao chao, a lembrar terras perdidas de um mundo de índios e cowboys. Cheira a empanada frita em cada porta - e a humita e a tamal, que sao uns típicos de acá, o primeiro de milho, o segundo de carne, envoltos numa folha de uma planta qualquer, casca de algo. Há camionetas e bicicletas de latao enferrujado, e pó, pó, pó. As crianças sao lindas de morrer - os narizes ranhosos cheios de terra e uns olhos negros de índios, enormes, uns cabelos espessos cor de carvao.
Igual, fueran estos umas aldeias sem gracola nenhuma, e a Ruta 40 seguia valendo por si.
Capaz seja o caminho mais incrível que já calcorreei em vida minha.
A paisagem é esquizofrénica. Entramos na montanha verde-imenso, verde absurdo. A estrada é ainda de alcatrao, em ziguezagues que nao deixam adivinhar a intencao da proxima curva. A cada metro, somos engolidos mais e mais. Verde, verde-água, verde-relva, verde-tropa, verde-que-nunca-mais-acaba e sempre mais verde e mais forte.
De repente, numa curva igual às outras, o verde passa a encarnado. A montanha é fogo, sangue, laranja em pó, terra-barro, luz psicadélica de lampada duvidosa.
Uma hora depois chega o deserto - este sim, o faroeste.
O encarnado vermelhao esbate-se num amarelo gasto, árido, seco, agreste. A estrada torna-se mais caprichosa, e ja nao é de alcatrao: terra solta e calhau. Estamos - sim - no tal faroeste, o dos filmes. A estrada entra por desfiladeiros, sai por vales de pedra, passa discretamente ao lado de outros planaltos, entra e sai da montanha, e podem adivinhar-se filmes de índios e cowboys aos tiros e aos gritos montanha abaixo, a sairem de esconderijos de pedra. Há cactos. Em fila, de perfil, grandes, pequenos, ordenados, espalhados, dispersos, a coroar a linha alta da montanha junto ao céu, como uma coroa, e escorregando encosta abaixo.
O folclore salteño na radio cheia de interferencias, a harmonica, o violao, a flauta de madeira, a voz cigana a prender-se nas sílabas continuadas. E cactos, cactos, cactos.
Acábamos em grande. Chegámos ao topo, entramos numa nuvem, parámos os carros, e passou uma musica muito boa na radio. Dancamos dentro da nuvem, nao se via um palmo a frente do nariz, mas estavamos todos tao contentes e tao cheios da Ruta 40, da terra comida e das paragenes onde a vista apeteceu, que nos quedamos feitos tontos no topo da montanha a dancar folclore.

martes, 25 de diciembre de 2007

FUI

Meus queridos,
dentro de meia hora saio de casa. As janelas estao fechadas, o chão varrido, os lencois tirados.
Tenho a mochila a porta de casa, e os ultimos sacos do lixo para descer.
Parto para o norte da Argentina, Bolívia, Peru, Colombia, Ecuador, e se gerir bem o tempo e o dinheiro, acabo em grande no Deserto de São Pedro de Atacama, Chile.
Cenas dos próximos episódios...
Um beijinho enorme a todos,
até JÁ

FUI
(Sorriso estupidamente escancarado)

domingo, 23 de diciembre de 2007

Navidades

Agradeço aos supremos desígnios destes que são os temas climatéricos. Estamos às portas do Natal – hoje é dia vinte três, também aqui – e faz um calor de morte. Passeio-me descalça de calções, as minhas janelas não são fechadas há três semanas, a minha casa tem um ar de verão.
Estamos às portas do Natal, e imagino como está desse lado. As luzes, o reboliço da Baixa, as árvores enfeitadas, as ruas enfeitadas, as músicas natalícias.
Agradeço a ditos supremos desígnios, porque o Verão que estou a viver faz-me sentir longe do meu Natal. Como se não estivesse a acontecer – quem vai ter o humor palerma de espalhar pela cidade neve de algodão e pais natais de gorro e casaco de lã com quarenta graus?
Vamos todos juntar-nos em minha casa dia vinte e quatro, para jantar. Cada um traz o que pode, as meninas já se puseram a inventar iguarias e petiscos, temos musica de Natal, e temos saudades das nossas casas. Não vamos ter presentes, acho que todos sentimos que o melhor que podíamos ter recebido no sapatinho foram estes quatro meses extraordinários, e é comum a sensação de sermos todos os presentes uns dos outros.
Juntamo-nos para celebrar isso mesmo, penso.
Quanto a mim, tenho saudades.
Sinto falta de estar à mesa com a minha família – meus queridos putos, não há barulho ou confusão como a nossa.
E pronto, já cá faltava a lagrimazita ao canto do olho… Fico-me por aqui, senão desato a chorar à parva e estrago outro teclado.
Um Natal cheio de gargalhadas. Um beijinho a cada um.
Feliz Natal.

viernes, 21 de diciembre de 2007

Aperitivo: ostras e caviar (ou boleias e dias de sol)

Uma muito boa viagem-aperitivo!!
Aquela melancolia que andava a picar a cabeça por tudo o que está por terminar agora – tudo o que parte agora de volta às suas casas – deixava o entusiasmo pela Parte Segunda Gran Tour Suramerica meio adormecido.
Por aí veio a importância deste aperitivo, esta primeira picada, para abrir a histeria dos três extraordinários meses que aí chegam. E a verdade é que o senhor lá de cima se encarregou de nos entornar em cima uma mão cheia de não menos extraordinários pozinhos de pirlimpimpim, e os nossos dez dias – meus e da Ainoa – foram recheados de cenas de filme!!
Tudo correu de uma deliciosa forma inesperada! Vejamos.
Claro, tudo começou com a aventura sobre rodas já relatadas. Impossível melhor, mais imprevisível, mais entusiasmante maneira de começar… Chegámos a Montevideo sem tecto certo, e só com um mail incerto enviado na véspera ao Bernardo, um português que estava a estudar lá, e com quem eu tinha estado UMA vez em Setembro, em visita a Buenos, numa jantarada de tugas.
Melhor bom fundo não podia ser, más bueno com nosotras no podria ser. Não só ligou um milhão de vezes a saber de nós, como nos recebeu em sua casa como princesas, fomos jantar fora, cozinhamos dentro, conhecemos a amigalhada uruguaya – gente más buena, más tranquila… -, e por caprichos e feitios do tempo e de alguma tormenta, voltou a receber-nos de braços abertos quando voltámos fugidas a Montevideo, depois já de termos seguido viagem!
Lá aprendi a tabuada do mate uruguayo – o verdadeiro mate, ao que parece – e aprendi truques, técnicas, y essências. E que o Uruguay é o país mais tranquilo e seguro aqui das redondezas latinas. O que é que isto chama?? /(Lembrem-se do factor baixo orçamento e da variante aventura) Hacer el dedo!!!!
Que é como quem diz, aterrar na estrada de manha cedo e estender o polegar. Rasgo extraordinário nr dois: quanto tempo demorou um carro a parar, perguntam ustedes?? Pois entre oito e onze minutos. Uma carripana do tempo da avozinha, de latão enferrujado e madeiras de tinta gasta, caixa aberta e um senhor dos seus sessenta, ar simpático, cor de trabalho ao sol, rugas de muitas histórias. Lá atirámos as mochilas e subimos até à praia mais próxima. Com o vento a despentear cabelos, encostadas nas mochilas, e a maior sensação de livre, livre, livre…
Não tardou muito o rasgo nr três, porque depois de um bom dia de sol, conhecemos uns uruguayos na gelataria, e acabamos em casa deles a fazer um belo Asado Fomos acolhidas, mais uma vez, à grande e à uruguaya, numa onda de sorte e benditos ‘’logo se vês’’.
E claro, o Cabo… o melhor lugar do mundo. O por do sol, a garrafa de vinho, a ausência de luz, de água, a cabana.

A verdade é que foram dez dias sem pagar uma única dormida, e dez dias das melhores conversas e de um espírito de liberdade, a abrir o apetite para o grande manjar que se segue.
Acabamos em beleza numa última noite em Montevideo, passeando à deriva sem saber que fazer com as últimas horas de dez dias brilhantes… e veio o ponto final perfeito. Noite das Luzes, a praia de Montevideo cheia de gente, e espectáculo de fogo de artificio incrível, com uma banda sonora natalícia a encher a areia e as ruas da cidade. Foi uma lágrima no canto do olho e um inspirar bem fundo de tudo o que ando a viver. Foi um ‘’Feliz Natal’’ sussurrado à minha querida Família, um momento dedicado a cada cara que faz falta, foi uma noite dedicada em silencio aos meus queridos de São Marçal.
Lá voltámos a Buenos Aires, casa.
Mas a nossa Casa espera sempre por nós, não é?
Em poucos dias começo uma aventura imensa!!

Miradas uruguayas

l










domingo, 16 de diciembre de 2007

meu lugar ao sol

Encontrei o meu lugar ao sol neste mundo. Vamos chamar-lhe simplesmente o Cabo – salvaguardo a tranquilidade dos que nele vivem.
Fica escondido atrás de uma duna imensa, numa língua de terra que sai da costa. Carros não entram, cabos de electricidade também não. O jeep da reserva natural leva-nos até lá a bom preço, e passado o declive, primeiros sinais de população – se não contarmos com os dois leões marinhos refastelados preguiçosamente na areia.
São barracas. Romanticamente chamadas cabanas. Semeadas pela encosta da duna, construídas pelos pescadores, pelos hippies, pelos artesãos locais, pelos fugidos do mundo urbano – não é um exercício literário, a população é assim composta. E as barraquinhas de madeira foram mesmo construídas por quem nelas vive. A prová-lo, o clássico musiquear do martelo na madeira, a interromper o som surdo da praia aqui e ali e ali mais ao fundo.




Num seguimento da sorte incrível que tivemos toda a viagem, conhecemos um local que vivia por ali há quatro anos, das pulseiras e outras manufacturas. Que nos deixou ficar na barraquinha dele. Construída das suas mãos também, uns dois metros quadrados de madeira tosca pintada de cores vivas, por dentro uma casa de bonecas, as garrafas-velas, as panelinhas amolgadas, fotografias da família, longe, na civilização, mantas coloridas e gastas, as estantes visivelmente artesanais, a inspirar horas de concentração, e na ‘cozinha’, um mínimo poço – também saído das mãos do nosso anfitrião, Edy -, única fonte de água potável, doce, bebível. E para tomar banho, e para o ‘’autoclismo’’, e para lavar fosse o que fosse.
O pequeno pueblo de cinquenta pessoas é uma descoberta de sobrevivências. E de uma noção de desprendimento impressionante, porque ao lado da metade pescadora, há a outra metade que fugiu para ali há um par de décadas, construiu a sua barraquinha, e ali assentou raízes.
As ruas são de areia, a iluminação de rua limita-se aos farolitos de quem se passeia depois do jantar – umas artimanhas feitas de uma garrafa e uma mão de cera.

Vimos a puesta do sol em silencio, ao brinde de um vinho branco comprado no único armazém de comida do sítio (esqueçamos que o conceito de armazém implica uma certa dimensão) , num estado de alma-cheia Maior, e num dos únicos pontos deste lado do mundo onde se pode ver um por do sol mergulhante no mar – porque é ao contrário, faz sentido, não?? Também disso tinha saudades.

Jantámos camarões recém pescados, porque a pescaria foi farta e o excedente foi distribuído pela população.
Saímos a ver as estrelas que Buenos Aires não tem, que nem Lisboa.
E parti dali com a impressão de ter descoberto um lugar preferido no mundo.
Volto em Março.





sábado, 15 de diciembre de 2007

domingo, 9 de diciembre de 2007

La portuguesa

Partimos Ainoa e eu no barco das oito da manhã de Buenos Aires. Destino? Colónia de Sacramento. A intenção era chegar a Montevideo – uns 200, 300 km depois – de uma qualquer maneira ainda meio incógnita. Pela liberdade de fugir aos bilhetes comprados a distancia com hora e check-in. Por simpatia ao meu estado financeiro, que se prepara com cautela para a gran tour. “A ver que pasa!”

O dia estava bem disposto, o bom sol no ‘convés’ do barco – as duas deitadas com um bom mate e uma boa preguiça lagarta - foi o melhor prefácio de uma semana de Uruguay e ‘logo se vês’.E entre a descontracção de pensar que seguramente conheceríamos alguém tão à nora como nós, ou a segurança, em última instância, da linha da carreira nacional, lá nos aconteceu o inesperado.

Um grupo de motards veteranos, ruidosos, brincalhões, indiscretos. Ao jeito ‘Faro forever’. Tronco nu e t-shirt – preta, obviamente – ao ombro, botas de cano pretas – obviamente -, tatuados de águias e insígnias da Harley Davidson, cintos de igual origem - podiam ser confundidos com um grupo promotor da marca…dos fios no pescoço às camisas, os óculos, as tatuagens… - e claro!, os clássicos lenços de cornucópias!!Meteram conversa com toda a gente no barco, ao seu jeito de putos asneirentos. Nós não fomos excepção. Piada puxa conversa, conversa puxa piada. Lá se sentaram finalmente ao nosso lado com os seus cubanos, e nos contaram um pouco da sua vida de estrada, das viagens – esta agora, a Punta del Este, a um ‘ajuntamento’ da espécie motoqueiro. E num registo de ‘quem lixa quem’ íamos sabendo suas coisas uns pelos outros, ao jeito desbocado - uma graca!!

Lá saltou, a piadas tantas, um ''haha nós levamo-las a Montevideo, claro que sim haha''. Respondemos com um ''sim sim haha'', e despedimo-nos deles no porto - porque as mochilas eram grandes e tornavam as motos em camiões tiro. Vimo-los todos a arrancar do porão do barco rumo à estrada, a deixar um ronco atrás. Seguimos a sonhar em voz alta, 'te imaginas como seria si nos llevaran' y 'que sueno, que locura haha', as cabeças a viajar nos filmes mais incríveis, e no fundo com pena de não podermos simplesmente... ir.

Pois voltámos a encontrá-los à entrada do terminal de autocarros - não havia mochileiros potenciais solidários, nem carros a quem pedir boleias seguras -, um pouco mais à frente, a preparar suas 'princesas' - umas Harleys de cortar a respiração -, equipadas, artilhadas, a aconchegar as malas de franjinhas de lado. Acho que imaginam o que aconteceu, não??



Pues NOS FUIMOS!!!!

Despachámos as mochilas de autocarro e montámos rumo a trezentos km de estrada.

Foram tres horas de vento na cara, ares mais quentes e brisas mais frescas, tres horas de cheiros, a pasto e a campo e a bosta de vaca - vá, há que ser objectivo -, as mudanças sentidas nas caras ao sol, no cabelo em pé; as quinze motas a voar em conjunto como um bando de moscas, borboleteando umas com as outras, mas sempre em bando, e a protagonizar o alcatrão, só nosso. A Ainoa e eu trocávamos risos escancarados de emocao - que aquilo não acabasse nunca - e os motoqueiros conduziam lado a lado e trocavam chistes e piadas. E voltavam a misturar-se, e trocavam a ordem, e seguimos sempre na mesma nuvem de velha cumplicidade destes companheiros de rodas.

O cabelo a voar e a sensação de liberdade, de ''o mundo é todo nosso', e o som dos roncos das Harleys a fazerem-se anunciar em cada troço do caminho.

Entrámos finalmente em Montevideo, capital do Uruguay, triunfantes, acelerámos a marginal até ao fim, fomos espectáculo em todos os semáforos parados, as pessoas olhavam, saludavam, e nós riamos e seguíamos como reis num cortejo de princesas.

E assim começou a minha viagem-aperitivo, desta perfeita inesperada maneira nos lançámos nestes dez dias 'com o vento e sem matemática'.

A minha cabeça já entrou nesta nova onda de volta ao Mundo. E de Harley.

No final baptizei a minha mota, uma Harley branca, linda de morrer. La poderosa?? La portuguesa hahaha!!

viernes, 7 de diciembre de 2007

First round: Uruguay

Meus caros,
Finalmente de férias, um sol abrasador, e a mochila a começar a chamar do pó do fundo do armário.
A minha mente garganeira queria por-me na estrada uruguaya pela costa, entrar no Brasil, ir subindo até ao Rio, para uma passagem de ano em grande e em cheio.
Claro que alguma água na fervura e uma mirada mais ponderada à minha conta bancária me acalmou os ânimos, e decidi ir apanhar outros ares num estilo um bocadinho mais modesto - e muito menos aliciante, mas não menos cheios de aventuras....ahaha o suspense...
Primeiro acto: Uruguay! Donde escribo justo en ese momento. Montevideo City.
Dez dias de liberdade - volto a Buenos Aires para o Natal - sem reservas nem bilhetes, em busca de praias, cabanas e pescadores. Eu e a minha querida Ainoa, a viagem de volta de barco no bolso, e uma grande vontade de aproveitar o sol e a areia nos dedos dos pés. A ideia? O mais economico possivel: dormir onde calhe, fazer 'o dedo ' - ir à boleia, hey!, estou no Uruguay, o país mais tranquilo e mais pacífico da Suramerica. É simplesmente algo que se pode fazer - e voltar a Buenos Aires no fim com uma mão cheia de historietas divertidas,
as barrigas bem bronzeadas e a cabeça já em pré estagio de vontade e preparação para a Gran Tour que se avizinha.
Vamos com o vento e sem matematicas.
Para um cheirinho da minha grande Bolívia-Peru-Ecuador-Colombia, que está para breve. E porque é bom estar de férias!
Volto no Sábado!
Novas aventuras já já!

domingo, 2 de diciembre de 2007

Ya fue...

Meus queridos. E o primeiro bocado ya fue.
Acaba agora a primeira parte desta minha aventura. Acabam as aulas, acabou a chuva, acabaram as meias (enfim). Começam as primeiras despedidas, as primeiras partidas com a sensação do ‘pode ser que nunca mais te veja’. Novas gentes chegarão, novos ares nesta Cidade de muitos.
Começam as viagens de todos, cada um a atirar-se para suas estradas e suas mochilas. Buenos Aires esvazia-se no Verão. Vão aos poucos, a Cidade vai ficando mais vazia sem dar por isso.
Vai custar um bocadinho. Vem agora os primeiros ares de saudades, desta primeira boa fase– que constante, isto da Saudade, ‘oh gente da minha terra’.


Sinto-me confortável nesta vida. Gosto de acordar e sentir-me um bocadinho porteña, saber que estou a deriva, sentir-me mais livre que nunca.

Gosto do que aprendi aqui, das pessoas que me mostraram outros lados do globo e do Homem, lados de si; das manias, das costumbres, gosto das pronúncias – adoro as pronúncias! - , e das saudades que cada um tem do seu país. Gosto da boa mescla que somos todos.

Quatro meses volvidos, e sinto a cabeça mais cheia, mais aberta. E a agenda. Apetece-me parar o tempo. Está a correr feito parvo…

Começa por agora a parte II: volta à América Latina em três meses e meio.

sábado, 1 de diciembre de 2007

Dois lados da mesma (?) moeda

E assim é Latinoamerica. Diferente.
Tinha o jornal na mão e um Chavez que não compreendia. Continuo sem compreender muito bem, mas já tenho mais luzes ao palco das coisas.
Chavez chama ao ex de Espanha fascista, em plena Cumbre Internacional. Chavez discursa aos media contra Espanha e seu sistema, contra o colonialismo e seus protagonistas. Cortou relacoes com Espanha e com a Colômbia. Chavez fechou um canal de televisão. No país de Chavez não há BDs satiricas no fim dos jornais. Chavez cultiva a sua personalidade de líder salvador ao jeito antigo. Chavez faz o que quer e diz o que lhe apetece. Chavez vai por ele, e nesse ‘ele’ presume a voz de muitos. Afirma a doutrina do homem novo, calculo eu, inspirado nele próprio. E agora no próximo domingo, vai a referendo uma tal de proposta de reforma constitucional(apresentada e defendida por ele), que lhe dálegitimidade passada a papel timbrado para se manter no cargo ad eternum. Que aumenta o mandato para 7 anos, que admite recandidaturas sem limite, que concentra mais poder no Presidente . Que abre espaço a uma propriedade privada desprotegida, a uma noção de liberdade de expressão mais relativa. Ah claro, o senhor não é tonto: na mesma reforma em bloco, vem a mudança da jornada laboral de 8 para 6 horas.
É um quilombo, esta reforma, tem uma dimensão…
Pergunta: Chavez é um (potencial) ditador?
Resposta de um americano: sim, sim, sim. Totalmente. Não lhes cabe na concepção um tipo tão… presente (já ouviram falar do politicamente correcto?). Nem que existam pessoas a viver do estado. Nem que não possam despedir as pessoas so porque sim, nem que haja censura aos media.
Resposta de uma voz argentina, mais, ou menos original, still surpreendente à minha mentalidade europeia: Y que les importa a los venezuelanos la liberdad de expresion? Si hay trabajo, apoyo social, si las clases obreras y trabajadoras tienen condiciones… que es la liberdad de expresion en todo eso?? Que importa si el tipo ese se queda en el poder toda la vida?? El pueblo esta contento…
Calma. Arrisco-me a duas coisas, a entrar por este caminho. Primeiro, a dizer algumas asneiras, na minha ignorância de quem acaba de conhecer o mundo latino como ele é. Limito-me então a debitar opiniões inesperadas, vozes de cá, parciais e contextualizadas. Mas que conhecem a historia, mais ou menos condicionadas pelo meio, pela posicao, e reconhecem os feitos, as necessidades, as mentalidades, as culturas, e tudo o que por aí se pode concluir.
A segunda é a tornar-me profundamente aborrecida aos meus queridos com este tipo de contos. E quanto a isso, sorry. Mas vão ter que me gramar. Truth is, o meu bichinho jurídico-político anda agitado com tantos novos lados de uma cultura. Saltam-me à cabeça traços destas gentes como sociedade. Mais profundos, mais políticos, mais sociais, mais enraizados, e mais difíceis de apreender à primeira vista – é muito mais fácil dar-me como apaixonada por Buenos Aires por si, que entender afinal a alma da Suramerica. Seems obvious.
Então, parece que o dito senhor fez muito bem a muita gente – dizem alguns, que eu não sei, e tenho as minhas reservas. E que levanta alma venezuelana. ‘Filhos de Bolívar’. E depois, a guinar noutra direcção, um venezuelano no La Nacion: Chavez só é bom para quem trabalha para o Estado.
E Chavez quer iniciar uma verdadeira reforma socialista – seja lá o que isso queira dizer nas suas entrelinhas.
Por outro lado, temos a Bolívia, que esta entalada numa reforma da Constituicao mal amanhada num processo duvidoso, com as mesmas bandeiras: aumento do mandato, recandidatura ilimitada. Sublinhado o modelo interventor. E dois terços do país – os sectores que detem o poderio económico – em greve geral, por isso. Ecuador (ou São salvador? Não tenho aqui o jornal…) tem uma reforma constitucional em curso também… vá-se lá saber em que direcção(!).
E há o outro lado, o americano, que não percebe isto do Estado de Bem Estar, que o despreza, o atribui à preguiça da gente. Isto a propósito de uma conversa ontem com os dois lados em cima da mesa.
No seio de uma Suramerica rebelde (como próprio Chavez se denominou), com el Che em mente, busca-se um modelo de Estado-pai, Estado central, Estado que sai das suas linhas mínimas para se expandir ao detalhe, aqui melhor considerado que a busca de um modelo mais liberal. A classe média não existe, e os fossos entre os ‘muito muito’ e os ‘muito pouco’ são os maiores do mundo… e surge o antinorteamericanismo, antiliberalismo.
A questão é: que duas visões tão diferentes, que conceitos tão antagónicos. E que contextos tão incompreensíveis para cada lado contrário. Sinto-me a descobrir uma nova ‘guerra fria’ escondida debaixo do chão – passe a comparação sem querer ir mais além.

E Chavez, afinal...?
Quero tentar perceber um bocadinho melhor isto da política por aqui… é tudo tão diferente…
Está confuso e está disperso. Mas também a minha cabeça em todo este palco. Vou tentando perceber. Vou comprando o jornal todos dias, e metralhando as pessoas com perguntas.

miércoles, 28 de noviembre de 2007

Catarina, a da Boa Fortuna

Sera uma novidade fresquinha?? Uma historia impressionante??? Una aventura increible???
Não, não tive tanta graça nestes dias desaparecida: a verdade e que, seguindo a lógica de sorte que me persegue desde o outro lado do oceano, o teclado do meu computador “subitamente” deixou de funcionar. “Subitamente”, porque realmente o que aconteceu não foi tão inesperado quanto isso. Mais, direi mesmo que se pode adivinhar uma relacao causa-efeito com alguma seguranca quando deixamos entornar um copo em cima do teclado. (acho que não releva muito o que estava no copo pois não?)
Assim vivi eu estes últimos dias de tecnologia. Foi telemóvel, foi mp3. E foi computador. Felizmente existem os direitos do consumidor, prontos a ser deturpados, e se a vitima e uma multinacional poderosa, mais limpa vai a consciência no discurso do “não percebo, deixou de funcionar de repente, não sei que aconteceu”. E assim a garantia paga-me o arranjo, e nao fico depenada em 250 dolares – mais ou menos o dobro do que pago pela casa!

[Aparte: sou de facto uma pessoa muito coerente. Neste preciso momento, acabo de entornar o meu mate no teclado portátil que comprei para usar enquanto não me vem buscar a compu para arranjar… alguém me prende as mãos e me inibe de qualquer subtil movimento?? Começo a perceber porque cada vez que pego em copos para levar para a cozinha, os rapazes deitam as mãos a cabeça, e porque o fazem também quando me aproximo dos computadores, e quando passo pelo emaranhado de fios, e outros movimentos aparentemente simples, que na minha pessoa descoordenada se tornam potenciais causadores de catástrofes naturais. Enfim. Seguindo…

Entre aquele ponto final e esta maiúscula passaram algumas horas. Desesperadas, porque o teclado que comprei ONTEM deixou de funcionar temporariamente... Acaso ou pura falta de jeito… que boa fortuna a minha.
Menos mal, dia de parque, dia de sol, dia de boas conversas, bom típico mate.
E um jornal cheio de noticias a dar que pensar e que escrever – a la iremos. Por agora fica um "estou viva, e tenho muitas coisas para contar." Mas tudo a seu tempo, que o teclado tem de ser tratado com carinho. E os escritos em marcha ainda estão a cozinhar na cabeça (que pensam, sem teclado torna-se difícil actualizar-vos em cima do acontecimento).
Estou quaaaase de ferias!!!!!


Ate ja ja ja (juro que num toque actualizo os meus dias)
Saudades (o Natal´e lixado)

jueves, 15 de noviembre de 2007

Aaah, o porteño complicado

Depois de algumas – muitas – conversas de mesa, chegou a altura de tirar algumas conclusões. Partindo do facto de que a composição das mesmas (mesas), pelo menos das mais sentadas (ai que boa parvoíce brincar com as palavras, viram?, mesas sentadas?, a falta de estímulo intelectual universitário está a dar-me a volta ao miolo, e acabo nestes entretenimentos… a lá iremos, outro assunto a discorrer)… retomando o pensamento e o fio à meada, as mesas mais sentadas dos meus dias têm uma composição reincidente: a grande Europa (Espanha, França…), a Argentina, e o meu querido pequeno Portugal – geralmente, eu. Make sense, no?
A conversa toca os quatro cantinhos, rodopia e pica o ponto nos mais variados t(r)ópicos.
E algumas luzes se vão acendendo, nesta querida charada que é a alma argentina; corrijo, porteña. Porque – todos o dizem, e vou percebendo - Buenos Aires é um pequeno país dentro da grande Argentina. Ouvido de passagem que “Christina Kirchner no gano las elecciones”. Ou seja, ganhou em todo o país, menos na Capital Federal. Esta é uma das claridades, a luz de presença a facilitar outros interruptores.
O porteño. A Cidade. A maneira de estar, o pensar tantos assuntos, os tiques de linguagem, a pinta, os ares deles… dizem os locais. Que saindo das linhas fronteiriças da Capital Federal para a Província, tudo muda, e aí se conhece a Argentina real, para lá dos ares cosmopolitas e urbano-iorquinos/parisienses da Buenos Aires.
Partamos deste principio: iorquinos não é comparação que sairá da boca do porteño: a mirada é atirada para a Europa, modelo buscado de muitos temas.
Os porteños têm uma relação muito… especial, com Europa.
Buenos Aires é a “Paris da América do Sul”, Buenos Aires é “uma cidade muito europeia”. E a troça dos chilenos afirma-se no “acharem que são a Londres cá do sítio”.
A moda é parecida, a cidade dá ares de uma Madrid, falar francês é um máximo e é pão nosso, até a insuportável cultura noctívaga da musica electrónica, a que os hispânicos orgulhosamente escaparam, com notas nacionais a agitarem a noite boémia – miren España, miren Colômbia - aqui é sinal de bom gosto – e a cumbia vai perdendo terreno, com olhares de “olhó parolo”.
“Uma cidade muito europeia”.
E depois, nas conversas roladas, vem o outro lado da moeda. O que fica por trás da admiração, do exemplo tomado. Porque a comparação é assumidamente feita num misto de orgulho (por poderem comparar), e algum despeito – porque comparam… e eso es.
Porque “nós os europeus” temos o euro, e a vida facilitada com ele. Porque temos salários mais altos, preços mais altos. Porque podemos cruzar o oceano e ser reis deste lado. E porque eles, fazendo-o, vêem a moeda reduzida 4 vezes.
O tema económico das idas ao supermercado e do preço da coca-cola – universal hábito, exemplar exemplo – vem inevitavelmente à mesa.
O facto é que já vi mudarem propostas de renda de casa de 1000 pesos para 1000 dolares, pelo simples facto de ser extrangeiro – e assumido em voz directa; já ouvi histórias de preço inventados perante sotaques de outras terras; e já tive uma discussão irritante com um argentino da minha faculdade, em que lhe explicava que era estudante, estava longe de casa, e por isso, naturalmente, não fazia vida de milionária; ao que ele me atirou um despeitado e desprezivo “pero ustedes tienen el euro”.
Vitimizam-se um bocadinho pelo estado das coisas, lembram sofridamente os dias do 1peso/1dolar - o porteño não viveu bem esse distanciamento do european way.
Isso nota-se na maneira como falam do antes, as viagens aos EUA, a potência da Sudamerica, o lugar no mundo. E de alguma picardia com os chilenos, que têm agora a moeda muito mais forte, a vida muito mais cara, a economia muito mais consistente.
E depois vem a terceira luz: é que no duelo de mesa entre as condições de vida de Espanha e a falta delas na América Latina, eu balanceio sem saber muito bem onde me encaixo na discussão. Porque sou europeia, mas não no que se discute (o salário mínimo espanhol, as bolsas de estudo, a qualidade de vida, o poder de compra… nada que ver boludo!), e porque sou europeia, e por isso não me aceitam a jogar na equipa contrária, aunque as críticas e os defeitos do sistema apontados pelos de cá, reconheço-os tal e qual – tal e qual! - em nós. E afinal, em que ficamos? Sinto-me latina, mas não tanto, filha de uma Europa em crescimento… mas não tanto.

Enfim, nem tudo são vícios no meu querido povo porteño. Têm a já mencionada e graciosa lábia – o well known chamuyo -, o que não implica apenas os rapazes nas festas serem 'un poco pesados', todavia siguen siendo gente con muy buena onda, e um povo simpático à boca cheia! São fanáticos pelo rock nacional, e todos, sem tirar um, trabalham. Desde os princípios da vida universitária. Com horário fixo e a normalidade de qualquer coisa que faz parte.

E continuam charmosos/as, e continuam a ter um sotaque de cair para o lado!

E acima de tudo, assumem tudo o que acabei de dizer com um bom sentido de humor!
Que boas complexas almas são!

jueves, 8 de noviembre de 2007

Perdidos e roubados

Et voilá!
O segundo telemóvel também já foi - como me perguntou alguém hoje, "Pero cual es tu problema?!?".
Pronto, pronto. Desta vez não tive culpa. Um drogadito apanhou-me no caminho para a faculdade, de manhã (passarinhos a cantar, sol radioso, flores nos parques... imaginam o bucólico primaveril matinal?), e lá me deu medo suficiente (depois de algumas ameaças em castellano, das quais, confesso, não percebi metade. Não sei se da pedrada com que estava, ou da gíria patife que desconhecia. Mas à força de linguagem corporal e expressão dramática, lá nos entendemos... Pelo menos, eu entendi-o perfeitamente!) para lhe passar o telemóvel (buaaaa) e o mp3 (buaaaaaaaaaaaaa).
Felizmente, logré ocultar la plata (200 pesos, pelotuda!) y la tarjeta (la unica que tengo, pelotuda total), y bueno, al final no pasó nada de más grave...
Fora o susto (e que susto...), a raiva do desdentado, a minha manhã primaveril estragada, e o meu património quase todo, sumido - ah, restam-me de bens próprios um conjunto de lençois de má qualidade e um par de meias azuis.
Felizmente mantenho o bom humor... já que não posso ouvir música, sempre me entretenho no autocarro a contar matrículas começadas por C.

martes, 6 de noviembre de 2007

El Asado

A mais típica tarde argentina. Tarde de assado, a começar a aquecer as brasas à uma da tarde, e a arrastar a conversa solta à volta da mesa e da carne - solteira, só ela mesma. E das caipirinhas a correr da cozinha ao jardim, que o anfitrião era um brasileiro simpático – não são todos? A perder a luz do dia sem dar por isso (foi da conversa? Das caipirinhas?), e a entrar pela noite dentro.
A mais típica tarde argentina. Sinónimo de dolce fare niente, rien faire, pura pereza, nem o asador – o Leonardo e o meu querido Filipe, à vez, e em pose de verdadeiro homem do churrasco. Churrasco, não. Assado – asado! Que tem muito mais charme.
Não parou de chegar gente, e não parou de sair carne da grelha. Doze horas de rabo sentado, da uma à uma, e que conforto! Acabamos cheios de originalidade… a dançar cumbia e salsa na sala, entre passos mais ou menos desajeitados e muita risa, entre as trocas de pares!
O mais típico assado, fora não haver argentinos para além dos bifes.

miércoles, 31 de octubre de 2007

Butch Cassidy's Patagonia, part III

Os bicharocos

Aqui chega a parte que querem mesmo, mesmo ver!! A bicharada!!
Eu introduzo: Puerto Madryn é uma cidade pequena – bastante feia, por sinal –, situada numa região de reservas naturais. A Costa, de Punta Tombo à Península Valdês, está povoada pela fauna mais incrível (para nós, nativos de outro hemisfério): os pinguins, que estão em altura de chocar ovos, e por isso há-os aos pontapés, em tocas abertas no chão; os lobos marinhos e os elefantes marinhos, gordos e preguiçosos, rebolados no chão junto à água, a parecer mortos, porque não mexem um dedo (se é que os têm); as torinas, que são uma espécie de golfinhos, mas pretos e brancos, e que saltam ao lado do barco, doidas por brincar; os manis (iauch, esqueci-me do nome, e inventei totalmente… deixemos em branco esta parte), que são coelhos gigantes, com um metro de altura; e depois os intemporais (porque se quedam na zona todo o ano) coyches (espécie de avestruz, mas mais chegada à família dos arbustos), guanacos (espécie de lamas), e… claro, as baleias! São baleias francas, têm 16 metros de comprimento, aos kilos perdi-lhes a conta, e vem aqui à baía reproduzir-se, ou dar à luz, ou só passear com os seus babies – que nascem com 4 metros de comprimento e 1 tonelada. Dizem que saltam, mas eu não tive a sorte de apanhar uma audaz – imaginam um monstrengo destes a saltar dentro de água? Onde vai parar o mar? Vejam o blog da Chloe, tem vídeos de saltos… Uau!
A paisagem é incrível, o mar… há o Mar! E a terra ganha o sentido de humor que as Pampas não permitem. Em penínsulas, em línguas de terra, em falésias, em praias de pedra, em verde e azul e castanho, e um bom happy sol que nos recebeu para o dia das baleias – eu não disse que ia ver como reflecte a luz na pele de uma baleia?
Não posso descrever, fiquem com as imagens que a minha máquina, em falta de melhor qualidade, conseguiu esforçadamente captar.

Pinguinos!






Elefantos y lobos marinos





Ballenas









And thats it!!


Na última noite, fizemos um ‘asado’ na hostal, nós os 14, mais cinco iguais a nós de direito que tinham chegado a Puerto Madryn na véspera, e os meus Anjos João e Fran, que chegaram nessa noite. Estoirámos o resto das energias, aprendemos a dançar Quarteto com os residentes - a cordobesa da recepção, o dono de 27 anos que se atirou no negócio, o colombiano que anda a dar voltas ao mundo, os amigos que se juntaram ao serão. Aguentámo-nos até ao nascer do sol, e fizemos as malas para regressar.
Voltámos cansados, cheios, com uma ‘joy’ cansada mas plena.
Fiz as Pampas no lugar cativo, num silencio maior, cansado, tranquilo, cumprimentei-as de novo ao sabor do mate e ao som da Cumbia.
Adormeci nelas, e às 9 da manhã, buenos dias, Buenos Aires, de volta à Cidade.
Boa saída. Boas Pampas.



Butch Cassidy's Patagonia, part II

Pampas

Aprendi-as no banco da frente do autocarro, como a ver um bom filme, através do vidro gigante da frente.
As Pampas.
Parece que Deus se cansou de inventar relevos e geografias, e chegando à Patagónia, desenhou simplesmente uma linha recta no chão - linha que o Homem imitou na estrada nacional paralela ao horizonte, sem um troço de desvio ou hesitado.
A linha do chão não se detém, não se quebra, não acorda da sua rectidão. Se projectarmos o olhar em tiro seco a rasgar o chão, não é parado nunca por obstáculo algum, e a linha do horizonte fica mais longe que em qualquer outra parte do mundo. Em todas as direcções. E apetece voar rente às ervas rasteiras em velocidade e de olhos fechados, com a segurança das Pampas de traço deitado, que não muda, não varia, só se estende sem parecer acabar.
É impressionante como te sentes pequeno nas Pampas. O olhar tem de galopar em dobro para chegar ao fim, e o raio de visão é tão largo e tão amplo que faz o mundo parecer maior, e eu nele tão mais pequena…
E não é o nosso Alentejo, com as planícies suavemente animadas por curvas calmas de corpo de mulher. Em que o mesmo olhar pregado na janela do comboio vai baloiçando, flutuando, balanceando, ao ritmo da linha do chão, e o movimento é mais natural.
Aqui nas Pampas, a linha recta é abrupta, absurdamente recta, directa, direita. E não admite capricho da natureza a adoçar-lhe as medidas. É quase violenta sua constância.
E bom, a estrada não tem curvas também, durante 18 horas de caminho, com a mesma disciplina da paisagem.
As Pampas, aparentemente aborrecidas, impõem-se com respeito. Com quem “aqui me tens, estendida a teus olhos”, parecendo todas tuas, e ao mesmo tempo, tão inacessíveis, e tão indiferentes à tua passagem.




Las Pampas



Las Pampas, vistas num vidro cheio de mosquitos.

Butch Cassidy's Patagonia, part I

Dados de uma viagem

Primeira saída de Buenos Aires, primeiro ar não porteño em três meses dele.
Os dados de uma curta viagem:
Buenos Aires – Puerto Madryn. 18 horas de autocarro, artilhados com “semi-camas” (haha, deixem-me rir, na minha terra, chamam-se cadeiras-que-se-encostam-um-bocadinho-para-trás!). 14 gentes, vindas da Colômbia, de Espanha, de França, do Brasil, da Alemanha e de Portugal. Bem, 13 alunos da Faculdade de Engenharia e a intrusa já mais que oficial e enturmada. Juan, Maria Helena, Marian, Alicia, Ainoa, Melanie, Fábio, Nathália, Patrícia, Lucas, Júlio, Christina, Anika, y yo, moi même – a ver quem percebe quem é donde!
Quatro dias extraordinários em bom convívio, época alta de reprodução de pinguins e baleias, zero português falado – nem com os brasileiros, com quem cada tentativa de falar na língua mãe, de um lado e de outro, desemboca sem percebermos no castellano.

A descoberta do Mar, depois de muito tempo, dos animais e da Natureza à distancia de uma mão. A descoberta do Quarteto e de mais um bocadinho da Cumbia (música típica argentina, o primeiro, de Córdoba, o segundo, de Buenos Aires… uma delicia!!).
E a maior de todas, a descoberta das Pampas.




a grupenga.



a nossa Mini Van...



... animada!


Catarina camionista

As minhas queridas amigas de inter rail hão de saber como sou em viagens longas: é-me impossível a prática do Sono-para-passar-o-tempo. Não há nada que goste mais numa viagem interminável do que pregar os olhos na janela e ir acompanhando a linha da terra e dos desenhos que vão ficando para trás. Poder guardar a impressão de continuidade que o avião não deixa, perceber o porquê da paisagem quando chegamos ao fim da viagem, sem ter esfregar os olhos e fazer um esforço por aprender de repente a matéria.
Aí estava eu num autocarro de dois andares, cheio de ressonares e olhos fechados. A luzinha de presença, ausência de movimento.
Lá me levantei, e pé ante pé, fui à cabine dos motoristas. Por trás da cortininha havia luz e havia vozes. Pedi para entrar a fumar um cigarro, deixaram-me e ofereceram-me o típico mate – do qual estou mais que viciada. Eram dois motoristas e um auxiliar, nas gerações dos 20, 30, e 50. Lá me instalei, e foram a minha companhia o resto da viagem.
Pequena, sentada no cadeirão ao lado do volante, e pequena, na companhia de três homens da estrada com a sua brejeirice e suas outras histórias. Bebendo maté toda a viagem, instalada no à vontade de puxar cigarros já sem pedir, aprendendo nomes da musica popular argentina, cantarolando as cumbias, ouvindo historietas ansiadas por contar, alimentando silêncios bons de estrada com a cabeça perdida nos desenhos da estrada e da terra, vista em primeira fila no ecrã gigante que é o vidro da frente de um autocarro daquele tamanho.
E assim atravessámos a noite das Pampas, do por do sol ao seu nascer, e assim, no final da viagem, o Gabi (um dos motoristas) ofereceu-me o cd de Cumbia que vínhamos a ouvir. Assim passei a primeira viagem de tantas – 18 - horas, a mais curta da minha vida.

Também assim nasceu a minha tendência de quase instintiva amizade com condutores dos mais variados transportes, já que o capitão do barco que nos levou a ver as torinas me chamou para o leme, e lá fomos charlando entre ditos do mar e outras sabedorias, entre buscas com o olhar e dedos espetados no ar, “está ali uma!”. E com o motorista da nossa mini van, que nos levou a península Valdês, onde estão os bicharocos todos, com quem fui nos bancos da frente a beber litradas de mate.



o meu lugar cativo, durante 18 horas (tomando maté!)


amigo motorista, com o meu mp3.

(to be continued...)

Olá actual (relato em curso!)

Olá olá!

Relatos, imagens e novidades fresquinhas a caminho, sobre baleias, Pampas e afins!! Não consegui descargar os videos por um qualquer problema do blogger, mas fica um olá actual (mais gordinha, mas muito viva haha!) e um "não desesperem, as frescas estão a caminho"!! A ver se hoje à noite já consigo publicar a minha viagem de fim de semana!
Estou bem! E voces?
Beijinhos e saudades
Até já!

martes, 23 de octubre de 2007

Alma argentina, política argentina

A ver se entendo…
Uma geração extraordinária. Sim. Ao exagero. Também. Movida, participativa, conhecedora do que se passa. Das ideias e das passadas. Um povo político ao extremo, uma consciência que não reconheci. Um conceito de Centro de Estudiantes com poder, dinheiro, e voz. Que têm a cargo as cafeterias das faculdades, os centros de copia, as bolsas dos alunos, a comunicação com a política “a sério”, muitos até os serviços que limpeza e manutenção das faculdades, que terciarizam – eu ando a aprender umas coisas…
Que têm a responsabilidade da “gente grande”, e que se dividem por ideologias mais convictas que um meu partido português de Governo e Oposição.
E uma História que não parece bater certo com tudo isto.
Tiveram un Péron durante onze anos, paternalista, num regime de culto da personalidade clássico, com direito a ilustrações nos livros da primária e o nome nos exercícios de gramática; deposto por un Golpe de Estado – a Revolução Libertadora - em 55, para safar de um regime a decair, e segue-se ditadura militar – dúvida numero 1: que diabo de solução é essa? Revolução Libertadora não me parece um baptismo muito lógico. Reposta a democracia, eleições livres, Frondizi sobe em 58 e cai também em 62 – novo golpe de Estado.
(Estão a seguir a cronologia? Golpe de 55, golpe de 62… ainda estamos no principio!)
Vem Guido, para “normalizar” a situação, e vem Illia, em 63. (De notar que nenhum destes nomes é novo na altura em que aparecem na História das Mil e Uma Presidências, antes são regressos de outras derrotas e outras historias politicas argentinas.)
Novo golpe em 66. Ongania sobe poder – este foi o tema da minha apresentação hehe – e revela-se (surpreendam-se) um ditador violento. Que cai em 70, com nova reacção militar.
Seguem-se uma série de presidentes efémeros, que se sucedem em carrosel, mais golpes, mais revoluções, Péron eventualmente regressa ao poder, volta a sair, e mais detalhes com o decorrer de mais aulas, que não há hora lectiva para tanta revolução politica.
Aperceberam-se? Peron. Deposto. Frondizi. Deposto. Illia. Deposto. Ongania. Deposto. E por aí segue, com golpes de Estado e revoluções do “agora-é-que-é-que-isto-assim-não-pode-ser” intercaladas.
Não percebo. Como pode um povo que parece ter tão enraizados seus focos ideológicos viver duas décadas de tanta instabilidade e fracassos políticos? Talvez por isso mesmo?
Mas à segunda tentativa não parece óbvia a inevitabilidade de consenso?

Onde ganham a energia para tanta revolução, onde conseguem criar novos e originais pontos de descontentamento? (que se assim não fosse, o meu semestre de História bastava-se em três semanas)
Pergunto a argentinos, que dizem que o Povo não conhece a sua História, e afinal é tudo uma questão de fraca memória? Lutas movidas pela pasion? Indecisão ou decisão tão forte que não seja aceita centímetro ao lado?
Oh tio historiador (sim, miguel freitas, é consigo), tem alguma luz para mim nesse imenso arquivo intelectual, ou terei de continuar em busca e fonte directa? Mas as vozes são tão frescas ou tão esquecidas, que não sei se por aí virá luz clara.
Meu povo argentino, alguém me explique o teu modo de pensar, que ainda me quedo pasma às charadas.
Bom complexo povo, minha querida labiríntica Alma Argentina…

sábado, 20 de octubre de 2007

inauguração do ciclo

O calor começa a chegar, na sua peculiar maneira de ser, entre tempestades semana sim, semana não – agora compreendo o conceito de clima tropical, uma chuva pesadíssima e um calor que o é mais, a roupa a colar ao corpo, o corpo a colar ao chão. Nem a ligeireza de uns chinelos, que dão à cabeça sensação de soltura, nos valem.
Vem chegando o Novembro, e mais confusa fico… Natal, no verão?? Férias de verão, agora?? Dezembro de chinelos e bikini?? Creio que vou andar meio aparvalhada com as trocas de associações.
Com a expectativa de férias, vêm os planos…
Bem, verdade seja dita, é mais uma necessidade de férias, que expectativa delas, afinal ainda falta um mês e meio… mas o mês de sol que deixei para trás, o mergulho directo na água fria das aulas, a imensidão do continente, o sonho desta viagem, e liberdade, a possibilidade, o afinal “está tão perto”… passei as ultimas 4 noites especada frente a um mapa da Sudamerica.
E mais novas concepções entram. Se eu andar 15 horas de carro, em quase qualquer direcção, não chego a sair da Argentina. O nosso Porto, ou o nosso Algarve, para esta malta é um Cascais onde se vai passear aos fins-de-semana. E três meses e meio já não parecem afinal a eternidade do principio.
O meu dedo indicador já fez esta viagem no mapa un million de vezes, e sempre por sentidos e rotas contrárias…
Mas vou agora na próxima 4f abrir oficialmente o ciclo de viagens, com um pulinho em Puerto Madryn.
Fica no sul da Argentina, e é um achado de fauna que foge ao conhecimento da minha portuguesidade. Há as baleias, na febre primaveril dos ritos de sedução, à superfície da água… e há os pinguins, e os leões marinhos, e os lobos do mar. E há o mar! Não conheci ainda um português (e já conheci vários) que não sentisse saudades do mar…

Sabem aqueles pontos brilhantes do Tejo, num dia de sol? Aquelas luzinhas de reflexos, tremelicantes, que fazem parecer bola de espelhos, e que salpicam toda a cidade, porque espreitam entre cada ruela em esquina plantada? A luz de Lisboa é diferente de todas...

Cá trarei a luz de Puerto Madryn, veremos como reflecte o sol na pele de uma baleia.
Enquanto não, cá volto ao estudo, que tenho o último teste na segunda, e ainda nao comecei...
beijo beijo
Até já



À noite, dizem que na praia, em silencio, se ouvem as baleias respirar…

viernes, 19 de octubre de 2007

toque rápido!!

Meus queridos caríssimos

Muito zurzida pela ausência prolongada nestes escritos e cozinhados… mas uma pessoa não pode estudar? Esta vida não é só farra, e este mês é de avaliações!!

Por hoje fica este toque, prometo esta noite roubar meia hora e publicar alguns avisos e relatos do meu moleskine, à espera para saltar páginas fora.

O toque é este…

http://clix.visao.pt/default.asp?CpContentId=334616

Afinal, não foi dia 17, mas a seu tempo sairá…. Atenção!! Há uma fotografia muito interessante pelo meio!! Onde está o Wally? Quem descobrir primeiro, ganha um mail de duas páginas, haha!!

Um abraço ao Miguel, que se perdeu de amores por esta Buenos Aires - desgostos amorosos só se curam enfrentando o objecto amado hahaha... serás sempre benvindo!

jueves, 11 de octubre de 2007

Flirt em Saxofone

Eu não vos dizia*?

(desculpem, vão ter de virar a cabeça...)

* ver post anterior (haha não têm remédio!)

Os diferentes, os estranhos e os locais

Numa fase em que já me sai um “che” natural quando falo com alguém (“che, que tal?”, “che vení a mi casa”, che isto, che aquilo, me encanta!), já abrevio Direito para dcho (e não dto) sem pensar, e já vou dando por mim a falar sozinha com algumas exclamações mais sentidas em castellano (estou a sentir-me uma perfeita emigra)… muitas outras coisas são também normais e não me saltam à vista.
Todavia (outro tique de linguagem muito emigra) queda por contar uma série de pormenorezinhos deliciosos (ou só diferentes, e perfeitamente aborrecidos) das esquinas e dobras de Buenos Aires. Como quando saímos a Espanha e percebemos que comem pão de borracha; ou a outro lado qualquer e reconhecemos tão tuga o restaurante do bitoque e da bica a cada esquina (O Sousa, O Almeida, A Parreirinha de Alcântara, do Rato, O Zé dos Frangos, O Zé dos Bifes, O Manel, A Maria, e por aí seguem…).
Detalhes e pormenores desta cidade… para baixar à terra da normalidade, e quotidianizar o escrito.
Por onde empezar?
Ah, claro, o café, básico de tanto tuga, pedra toque e chave de sobrevivência de muitos e de mim, para quem e sem o qual o conceito de dignidade humana não existe. E à volta do qual gira todo um mundo de vida social.
Aqui, nada de bica espessa e curta ("cheio e sem açúcar!"); vem um baldinho de café-água, feito em casa, que sorvo com algum espírito de sofrimento e resignação. Mas alegrem-se os espíritos, não há um único sítio (um!) que não faça acompanhar o café de um prato com mini bolachas/docinhos/something, e um copo de água… com gás! (Ah, boas tardes perdidas no Príncipe Real a pedir copos de água até às 7 da tarde, todavia sem sucesso)
E pelo caro que é (o mesmo preço que um maço de tabaco… 90 centimos de euro), ninguém leva o “vamos tomar um café?” no bolso para todo o lado (amigos, namorados, reunião, conversa, atrofio, só para sair de casa…). O encontro social – o café que toda a gente toma, mesmo que não o beba efectivamente – é o Mate, e toma-se nos parques, partilhado entre todos. Ouvido de passagem que 90% dos argentinos tomam mate. Calculo que os 10% resistentes sejam as crianças e alguns alérgicos à erva (seguro que los hay). Bebe-se num copo especial – parece um vaso de bardo -, com uma “palhinha” de metal, e tem o kit do termo de água quente atrás, porque o copo enche-se de erva até acima, e a água vai-se juntando aos poucos. A imagem é um encanto, e o ritual, um verdadeiro ritual. Total sinónimo de “estar”.
O leite com chocolate chama-se submarino, e é um copo de leite com uma tablete de chocolate massiva mergulhada no dito; e não se fuma em lado nenhum (alegre-se minha Mãe) desde a lei Buenos Aires Livre de humo, de Outubro do ano passado. Curiosamente, o único lugar onde esta lei não se cumpre … é na Faculdade Direito! Extraordinária noção do Bem, do Direito e da Justiça (estou a ser profundamente irónica, para quem não leu nas entrelinhas).
Seguindo o caminho dos cafés e hábitos associados, passo a informar também que o pastel de nata, o bolo de arroz, e o não menos garboso queque, são aqui gloriosamente substituídos pelas medialunas – mini croissants de uma massa tão boa que se comem sem nada. Gloriosamente, porque há sempre, há muitos, e há em todo o lado.
Tique de cultura, que sé yo? Aquí o que é bom e prático, há por todo o lado, e há só isso. Vejamos os kioskos.
São pequenas lojecas de conveniência – nunca o termo castellano tienda teve tanta plenitude – e vendem tudo o que uma pessoa precisa num momento de aflição, 24h. Vejamos… tabaco, chocolates, sugus e caramelos, barritas de cereais, chocolates, chocolates, chocolates. E cartões de saldo de telemóvel! Há uma média de dois por quadra, e às vezes mais. O que se demonstra pelo facto de, quando vamos jantar a casa de alguém, e queremos levar uma garrafa de cerveja ou vinho (o item que me faltava!), nos subúrbios dos subúrbios, não nos preocupamos com o gesto antecipado, porque seguro, seguríssimo!, que há um kiosko à porta visada.
Falando em cartões de telemóvel, também esse tema é muito próprio. Assim, quando não tenho saldo no tlm, vou a um quiosco, compro o cartão, raspo o código, ligo ao apoyo al cliente, et voila!, crédito no celular outra vez!
Mas calma… os pormenores aborrecidos e sem interesse nenhum que tenho para vocês não se ficam por aqui! Vejamos: há bancas de flores em cada passeio, 24h por dia – quiçás pelo feitio marialva dos argentinos, e mais ainda dos porteños, faça algum sentido vender flores às 5 da manhã, para eventuais, senão prováveis, necessários pedidos de desculpas; os carros não param nas passadeiras, mesmo que esteja verde (branco!) para os peões; os táxis são aos pontapés; e é normal e próprio de todos os argentinos, no matter idade, classe social ou educação, ouvir putear – meaning dizer palavroadas "de fazer corar um carroceiro"; os pintas argentinos usam óculos escuros na discoteca (pronto, até aqui é meio parvo, mas não são 1 nem 2 nem 3!); em todas as esquinas, ao lado dos kioskos, há locutórios (net e telefone); não há o conceito das lojas dos chineses, mas há o dos supermercados dos chineses; o autocarro só vende bilhtes a solo (não existe também conceito de passe) e com moedas, o que implica ficar apeado quando não há cambio nas carteiras – o que é uma chatice, e uma realidade, porque o défice de moedas é tal que ninguém em lado nenhum nos troca as notas.
E o empregado do café que flirta descaradamente qualquer mulher que se sente e peça, é normal e parte de aqui – agora mesmo…
Falando de empregados, e generalizando um pouco a ideia (metodologicamente, Savigny diria que é isto a tópica e o meu prof. de filosofia acusar-me-ia de generalização falaciosa; eu digo que é mesmo assim, está no sangue argentino!), os argentinos, e os porteños mais ainda, são uns sedutores natos. Não tanto em qualidade do paleio (não podem querer tê-lo todos, não é?), senão pela sua naturalidade, e quantidade de vezes que o entabulam. Metem-se sempre (sempre!): o taxista, o homem do kiosko, o rapaz que vai a passar na rua como outro qualquer, o hippie que faz brincos artesanais, o rapaz que te atende na loja. Uma amiga minha ficou com o numero do funcionário do banco que a atendeu! Mas com uma “gracia”, que torna a coisa num cumprimento - maior boa onda, o “não, não” é respondido com um sorriso, sorriem de volta bastando-se com isso, e seguem caminho.
Nada disto é exclusivo de minha descoberta. Conheci um rapaz simpaticíssimo numa festa, igualmente atrevido (daí partiu a conversa) e gay (aha, antes deste ponto pensavam que era engate, não era? Tsss não têm remédio seus alcoviteiros!) que me dizia, a páginas tantas, isso mesmo: o argentino rege-se pelo lema Veni Vidi, no que toca à mulherada (o vici requer mais arte). E se na rua, somos abordadas das mais variadas maneiras, e metade delas têm graça e nos fazem rir, numa festa o ataque é cerrado e chega a ser cansativo, porque não há rabo de saias que escape à arte de bem/mal falar.
“Pero Catarina, yo te digo” – respondia-me o meu amigo – “yo estuve en el mundo… y no hay hombres más lindos que los argentinos!!”. E não é que pode ter alguma razao?

E aqui suspensa, me retiro... é que me estão a tocar à campainha, e outro pormenor perfeitamente (este sim) absurdo é que, por segurança, não há mecanismo para abrir as portas da rua directamente dos apartamentos. Meaning, descer 6 pisos. Imaginem um jantar de 20 pessoas!


ps. dia 17 tudo a comprar a visão. logo perceberão!
pps. vou ver as baleias dia 24, ao sul da Argentina! Primeira saída oficial!

martes, 9 de octubre de 2007

A toalha dos pés ou O eterno "porquê, porquê, porquê?"

A bonança, depois da tormenta (ditos da minha Condessa de Ségur, que ficam depois da infância).
Como num casamento. Ou qualquer outra relação a largo tempo e menor escala.
A eterna guerra dos sexos, o incontornável choque de naturezas; somos afinal duas espécies diferentes?
Passou o primeiro mês, e com ele, como em qualquer relação de todos os dias, a descoberta dos lados lunares.
Dias de humor mais negro, vontade de gritar às almofadas, impassíveis, de sair de pijama à rua e entrar na porta ao lado, tentação de lá ficar, em qualquer porta de qualquer lado. As primeiras manhãs passei-as de olhos arregalados ao gestos de cada um, as seguintes reagi contra alguns, em evolução crescente do pedir para o perder a cabeça, e agora, reconheço que há coisas que não são discutíveis ou sequer susceptíveis de ceder: são assim e ponto.
E a tormenta passou, com um respirar mais fundo, e um pensamento de fair-play, afinal, casámos por um ano, e passado apenas um mês, a esperança é larga, a vontade tem muita força, e os lados lunares de cada um são inevitáveis e fazem parte.
E afinal, não é mais nada que ultrapasse a equação 1 vs 3. Es decir, se pensei um dia ou muitas vezes que as miúdas são difíceis, quando não são insuportáveis (e mesmo assim, tão encantadoras, não somos?), passou-me ao lado que viver com três homens, sendo mulher, não é as peace of cake as I though – logo eu, com dois em casa!
Haverá quem me responda: afinal, somos duas espécies diferentes?, estudadas em separado daqui a muitas eras por arqueólogos de outros ciclos?
Na minha aula de espanhol (a qual já abandonei, porque, a professora que me perdoe, não aprendi em três aulas mais que em dois dias na rua), uma das perguntas da ficha para treinar os pronomes era ironicamente a seguinte “Vos entendes a los hombres?”, ao que a resposta invariavelmente disparava “no, yo no los comprendo”. A pergunta era repisada, e a resposta parecia ser um dado óbvio.
A verdade é que não consigo ser original neste assunto, e viver o dia-a-dia não me desvendou nenhum segredo dos deuses, senão me desvendou apenas a existência de muitos mais – indecifráveis criaturas, charadas da Mãe Natureza.
Vamos lá a ver: sim, são simples, incrivelmente simples, numa boa maneira que Elas não conhecem. E numa incompreensível, também.
Ouvido de passagem.
“Precisamos de comprar uma toalha para os pés, para a casa de banho” (uma ela); “Para quê gastar dinheiro numa coisa que vai ter os meus pés durante 5 segundos?” (um ele, em resposta genuína).
Ok. Clara incompatibilidade de conceitos.
Afinal, somos mesmo duas espécies de uma classe humana? Teremos visões assim tão diferentes do mundo – do quotidiano e do mais profundo?
Ouvido de passagem.
“Porque é que deixas os sapatos sempre no meio da sala?” (uma ela); “Que há de mais prático que ter os sapatos a caminho da porta de casa, para quando sair, calçá-los directo para a rua?” (um ele, em crédula teoria).
Do modo como vivem o espaço à maneira como vêem a vida; da despreocupação com mil detalhes, à facilidade com que põem uma t-shirt lavada na mochila e partem à aventura, do sentido prático numas coisas, à falta dele noutras tantas. Quem são vocês e porque são tão diferentes de mim?


Há perguntas que mais vale não serem feitas. Não terão resposta. Ou não as compreenderemos.
E com muito do tal fair-play, e uma boa dose de paciência de mãe, lá vou conseguindo viver com estes meus três Anjos sem guerras. Com muitas manhãs acordadas incrédula, com muitos suspiros no ar de total incompreensão… mas, vivendo com os lados lunares que nem em Marte se tocam, vivo também com o melhor desta Natureza, aproveitado para mim. Com as gargalhadas a toda a hora, com a simplicidade desprendida, complicada por nós, com o bom humor escorregadio, fluente. Com uma boa despreocupação, com os "bora lá", aqui e agora, sem planos. E com um equilibrio que foge do meu, e por isso, o é mais.

E esta casa vivida é assim uma alegria.
Obrigada, meus pequenos.


ps. Aos que temiam La Boehme e um Direito a crescer torto, às bocas atiradas em tom de gozo e a todos vós, descrentes! Tive 9 no teste... em 10! Acho que vou sair a festejar!!!

Naaa.... tenho outro 4f! Ate já.


viernes, 5 de octubre de 2007

Onde a relva não é tão verde também faz sol

Uma vez mais, a cultura do parque. O que se faz num sábado de sol?
Já sabem a resposta, deliciosamente repetida, repetível.
Fomos passar o último sábado fora do centro da cidade, a Olivos, paragem de comboio já qualificável como subúrbios.
Um verde sem fim, não tão berrante como o outro, que a relva é cara e custa manter (e afinal estamos nos subúrbios) mas duplicado em tamanho, e com a cidade ao fundo, em papel de cenário, a dizer “é bom aí, não é?”.
Que bem que se está no campo, Adelaide!






Viaje a Olivos.... há coisas que não mudam com os continentes, one of those, o género musical da rede ferroviária! Estão o bando Xu completo, a Alicia, a Mel, a Paula, o Ivan e o Brian - tudo malta de engenharia! et moi, a intrusa mais oficial - já contam comigo e tudo!
estes dois são os rapazes que trabalham no Gabinete de Alumnos extranjeros na faculdade deles, e ao contrário do meu pacato e semi-invisível Martin, em Direito, estes dois organizam jantaradas, futeboladas, ligam, convivem, fazem, acontecem, põe-nos a fazer parte da movida porteña! Chamo-lhes o Pai e Mãe de seus hijos extranjeros, comparação que eles recebem com desportivismo, e já lancei a polémica sobre a atribuição dos papéis no "seio do núcleo familiar".
Muito boa gente. Argentinos de gema, e - parece-me - apaixonados também pelo resto do mundo.



(parque de olivos, miguel, alicia, ivan e francisco, miguel again)






martes, 2 de octubre de 2007

Cena de Chicas

Buenisimo!
Em vã promessa e proyecto no ar durante muitas, várias semanas, andava a ideia de juntar as miúdas todas e fazer um jantar da mulherada. Pôr mensagens a correr, troca toque e passa-palavra, e acabarmos todas – as titulares de direito de autor, e todas as que, de uma maneira ou de outra, saibam da cena de chicas e queiram aparecer - num restaurante charmoso a galhofar em boa histeria feminina, entre má língua, temas sérios, amena cavaqueira enfim, regada a bom vinho – já que temos a francesa Capucine, que parece ser entendida!
A mim, parecia-me genial! Porque gosto de uma boa jantarada de mulheres, da conversa, da gozação, dos típicos lamentos e mais típicos oxalás, do riso que se espalha pelas outras mesas, impossível de ignorar – uma mesa de mulheres enche uma sala! -, e em termos mais práticos, porque conhecia a ala feminina de direito, e pelos meus rapazes, a ala feminina de engenharia – tenho a sorte de ter acesso a dois mundos, e entre os quatro, conhecemos mais gente. Entre outra ponta solta, aqui e ali, numa festa, numa tarde, amiga de amigo de amigo… dispersas, éramos matéria prima para uma noite fabulosa.
A ideia começou, atirada em algumas mesas de café, a ganhar algum entusiasmo – extraordinária solidariedade espontânea feminina que parecia nascer em cada proposta.
Buenisimo, juntámo-nos as 15 que puderam ir. De Direito, de Engenharia, de Economia, locais, e uma a fazer mestrado de Línguas. Não me perguntem o como da receita. Fomos todas lá parar!
Alicia (Barcelona), Ainoa (Madrid), Melanie (Tolouse), Nathalia (São Paulo), Paula (Buenos Aires), Xaviere (Bretanha, França), Cynthia (Tolouse), Capucine (Paris), Isabela (Buenos Aires), Margaux (Francia, não sei de onde), Christina (Alemanha), moi même… (faltarão nomes para os quinze...?)o certo é que poucas sabíamos muito umas das outras, muitas nunca nos tínhamos visto, e foi uma cena animadíssima, cheia de boa conversa, bom atrofio, bom vinho (?) e boas, muitas fotografias.

Acabamos a noite numa festa de uma associação de repúblicas para estudantes e nos quedamos a dançar toda a noite, na maior animação! As maltas respectivas (os rapazes discriminados de direito, de economia, de engenharia, e outros soltos e soltas que, por qualquer motivo não jantaram – o motivo dos rapazes é obvio, não?) juntaram-se às tantas a nós na festa, e foi uma noite divertidíssima!

Cá vão algumas…

da esquerda para a direita, margaux, chloe, paula, alicia, ainoa, cynthia, eu, isabela, xaviere. À esquerda, em baixo, natália, e em cima, à direita, capucine e melanie!



Mais, soltas.


margaux, chloe, capucine, isabela!


eu e a ainoa, grande miuda!


mel e alicia!!



as que já apareceram, à entrada da festa!!





mais das marias chicas!!




Minha querida Chloe et moi, no final da noite; a fotografia já tipica, a uma hora a que sempre nos encontramos, no fechar das portas!


Grandes miudas, estas!
Firmámos un contrato, solenemento lavrado e comprometidamente assinámos, cada jueves si, jueves no, "a cenar con solemnidad y mucha buena onda (y mucho encanto tanbién) para tomar, hablar, bailar, y romper los corazones masculinos".
A manhã foi acordada com algumas dores de cabeça, e a boa disposição de um achado na vespera!
Muito bom achado, grandes miúdas, estas minhas!