miércoles, 31 de octubre de 2007

Butch Cassidy's Patagonia, part III

Os bicharocos

Aqui chega a parte que querem mesmo, mesmo ver!! A bicharada!!
Eu introduzo: Puerto Madryn é uma cidade pequena – bastante feia, por sinal –, situada numa região de reservas naturais. A Costa, de Punta Tombo à Península Valdês, está povoada pela fauna mais incrível (para nós, nativos de outro hemisfério): os pinguins, que estão em altura de chocar ovos, e por isso há-os aos pontapés, em tocas abertas no chão; os lobos marinhos e os elefantes marinhos, gordos e preguiçosos, rebolados no chão junto à água, a parecer mortos, porque não mexem um dedo (se é que os têm); as torinas, que são uma espécie de golfinhos, mas pretos e brancos, e que saltam ao lado do barco, doidas por brincar; os manis (iauch, esqueci-me do nome, e inventei totalmente… deixemos em branco esta parte), que são coelhos gigantes, com um metro de altura; e depois os intemporais (porque se quedam na zona todo o ano) coyches (espécie de avestruz, mas mais chegada à família dos arbustos), guanacos (espécie de lamas), e… claro, as baleias! São baleias francas, têm 16 metros de comprimento, aos kilos perdi-lhes a conta, e vem aqui à baía reproduzir-se, ou dar à luz, ou só passear com os seus babies – que nascem com 4 metros de comprimento e 1 tonelada. Dizem que saltam, mas eu não tive a sorte de apanhar uma audaz – imaginam um monstrengo destes a saltar dentro de água? Onde vai parar o mar? Vejam o blog da Chloe, tem vídeos de saltos… Uau!
A paisagem é incrível, o mar… há o Mar! E a terra ganha o sentido de humor que as Pampas não permitem. Em penínsulas, em línguas de terra, em falésias, em praias de pedra, em verde e azul e castanho, e um bom happy sol que nos recebeu para o dia das baleias – eu não disse que ia ver como reflecte a luz na pele de uma baleia?
Não posso descrever, fiquem com as imagens que a minha máquina, em falta de melhor qualidade, conseguiu esforçadamente captar.

Pinguinos!






Elefantos y lobos marinos





Ballenas









And thats it!!


Na última noite, fizemos um ‘asado’ na hostal, nós os 14, mais cinco iguais a nós de direito que tinham chegado a Puerto Madryn na véspera, e os meus Anjos João e Fran, que chegaram nessa noite. Estoirámos o resto das energias, aprendemos a dançar Quarteto com os residentes - a cordobesa da recepção, o dono de 27 anos que se atirou no negócio, o colombiano que anda a dar voltas ao mundo, os amigos que se juntaram ao serão. Aguentámo-nos até ao nascer do sol, e fizemos as malas para regressar.
Voltámos cansados, cheios, com uma ‘joy’ cansada mas plena.
Fiz as Pampas no lugar cativo, num silencio maior, cansado, tranquilo, cumprimentei-as de novo ao sabor do mate e ao som da Cumbia.
Adormeci nelas, e às 9 da manhã, buenos dias, Buenos Aires, de volta à Cidade.
Boa saída. Boas Pampas.



Butch Cassidy's Patagonia, part II

Pampas

Aprendi-as no banco da frente do autocarro, como a ver um bom filme, através do vidro gigante da frente.
As Pampas.
Parece que Deus se cansou de inventar relevos e geografias, e chegando à Patagónia, desenhou simplesmente uma linha recta no chão - linha que o Homem imitou na estrada nacional paralela ao horizonte, sem um troço de desvio ou hesitado.
A linha do chão não se detém, não se quebra, não acorda da sua rectidão. Se projectarmos o olhar em tiro seco a rasgar o chão, não é parado nunca por obstáculo algum, e a linha do horizonte fica mais longe que em qualquer outra parte do mundo. Em todas as direcções. E apetece voar rente às ervas rasteiras em velocidade e de olhos fechados, com a segurança das Pampas de traço deitado, que não muda, não varia, só se estende sem parecer acabar.
É impressionante como te sentes pequeno nas Pampas. O olhar tem de galopar em dobro para chegar ao fim, e o raio de visão é tão largo e tão amplo que faz o mundo parecer maior, e eu nele tão mais pequena…
E não é o nosso Alentejo, com as planícies suavemente animadas por curvas calmas de corpo de mulher. Em que o mesmo olhar pregado na janela do comboio vai baloiçando, flutuando, balanceando, ao ritmo da linha do chão, e o movimento é mais natural.
Aqui nas Pampas, a linha recta é abrupta, absurdamente recta, directa, direita. E não admite capricho da natureza a adoçar-lhe as medidas. É quase violenta sua constância.
E bom, a estrada não tem curvas também, durante 18 horas de caminho, com a mesma disciplina da paisagem.
As Pampas, aparentemente aborrecidas, impõem-se com respeito. Com quem “aqui me tens, estendida a teus olhos”, parecendo todas tuas, e ao mesmo tempo, tão inacessíveis, e tão indiferentes à tua passagem.




Las Pampas



Las Pampas, vistas num vidro cheio de mosquitos.

Butch Cassidy's Patagonia, part I

Dados de uma viagem

Primeira saída de Buenos Aires, primeiro ar não porteño em três meses dele.
Os dados de uma curta viagem:
Buenos Aires – Puerto Madryn. 18 horas de autocarro, artilhados com “semi-camas” (haha, deixem-me rir, na minha terra, chamam-se cadeiras-que-se-encostam-um-bocadinho-para-trás!). 14 gentes, vindas da Colômbia, de Espanha, de França, do Brasil, da Alemanha e de Portugal. Bem, 13 alunos da Faculdade de Engenharia e a intrusa já mais que oficial e enturmada. Juan, Maria Helena, Marian, Alicia, Ainoa, Melanie, Fábio, Nathália, Patrícia, Lucas, Júlio, Christina, Anika, y yo, moi même – a ver quem percebe quem é donde!
Quatro dias extraordinários em bom convívio, época alta de reprodução de pinguins e baleias, zero português falado – nem com os brasileiros, com quem cada tentativa de falar na língua mãe, de um lado e de outro, desemboca sem percebermos no castellano.

A descoberta do Mar, depois de muito tempo, dos animais e da Natureza à distancia de uma mão. A descoberta do Quarteto e de mais um bocadinho da Cumbia (música típica argentina, o primeiro, de Córdoba, o segundo, de Buenos Aires… uma delicia!!).
E a maior de todas, a descoberta das Pampas.




a grupenga.



a nossa Mini Van...



... animada!


Catarina camionista

As minhas queridas amigas de inter rail hão de saber como sou em viagens longas: é-me impossível a prática do Sono-para-passar-o-tempo. Não há nada que goste mais numa viagem interminável do que pregar os olhos na janela e ir acompanhando a linha da terra e dos desenhos que vão ficando para trás. Poder guardar a impressão de continuidade que o avião não deixa, perceber o porquê da paisagem quando chegamos ao fim da viagem, sem ter esfregar os olhos e fazer um esforço por aprender de repente a matéria.
Aí estava eu num autocarro de dois andares, cheio de ressonares e olhos fechados. A luzinha de presença, ausência de movimento.
Lá me levantei, e pé ante pé, fui à cabine dos motoristas. Por trás da cortininha havia luz e havia vozes. Pedi para entrar a fumar um cigarro, deixaram-me e ofereceram-me o típico mate – do qual estou mais que viciada. Eram dois motoristas e um auxiliar, nas gerações dos 20, 30, e 50. Lá me instalei, e foram a minha companhia o resto da viagem.
Pequena, sentada no cadeirão ao lado do volante, e pequena, na companhia de três homens da estrada com a sua brejeirice e suas outras histórias. Bebendo maté toda a viagem, instalada no à vontade de puxar cigarros já sem pedir, aprendendo nomes da musica popular argentina, cantarolando as cumbias, ouvindo historietas ansiadas por contar, alimentando silêncios bons de estrada com a cabeça perdida nos desenhos da estrada e da terra, vista em primeira fila no ecrã gigante que é o vidro da frente de um autocarro daquele tamanho.
E assim atravessámos a noite das Pampas, do por do sol ao seu nascer, e assim, no final da viagem, o Gabi (um dos motoristas) ofereceu-me o cd de Cumbia que vínhamos a ouvir. Assim passei a primeira viagem de tantas – 18 - horas, a mais curta da minha vida.

Também assim nasceu a minha tendência de quase instintiva amizade com condutores dos mais variados transportes, já que o capitão do barco que nos levou a ver as torinas me chamou para o leme, e lá fomos charlando entre ditos do mar e outras sabedorias, entre buscas com o olhar e dedos espetados no ar, “está ali uma!”. E com o motorista da nossa mini van, que nos levou a península Valdês, onde estão os bicharocos todos, com quem fui nos bancos da frente a beber litradas de mate.



o meu lugar cativo, durante 18 horas (tomando maté!)


amigo motorista, com o meu mp3.

(to be continued...)

Olá actual (relato em curso!)

Olá olá!

Relatos, imagens e novidades fresquinhas a caminho, sobre baleias, Pampas e afins!! Não consegui descargar os videos por um qualquer problema do blogger, mas fica um olá actual (mais gordinha, mas muito viva haha!) e um "não desesperem, as frescas estão a caminho"!! A ver se hoje à noite já consigo publicar a minha viagem de fim de semana!
Estou bem! E voces?
Beijinhos e saudades
Até já!

martes, 23 de octubre de 2007

Alma argentina, política argentina

A ver se entendo…
Uma geração extraordinária. Sim. Ao exagero. Também. Movida, participativa, conhecedora do que se passa. Das ideias e das passadas. Um povo político ao extremo, uma consciência que não reconheci. Um conceito de Centro de Estudiantes com poder, dinheiro, e voz. Que têm a cargo as cafeterias das faculdades, os centros de copia, as bolsas dos alunos, a comunicação com a política “a sério”, muitos até os serviços que limpeza e manutenção das faculdades, que terciarizam – eu ando a aprender umas coisas…
Que têm a responsabilidade da “gente grande”, e que se dividem por ideologias mais convictas que um meu partido português de Governo e Oposição.
E uma História que não parece bater certo com tudo isto.
Tiveram un Péron durante onze anos, paternalista, num regime de culto da personalidade clássico, com direito a ilustrações nos livros da primária e o nome nos exercícios de gramática; deposto por un Golpe de Estado – a Revolução Libertadora - em 55, para safar de um regime a decair, e segue-se ditadura militar – dúvida numero 1: que diabo de solução é essa? Revolução Libertadora não me parece um baptismo muito lógico. Reposta a democracia, eleições livres, Frondizi sobe em 58 e cai também em 62 – novo golpe de Estado.
(Estão a seguir a cronologia? Golpe de 55, golpe de 62… ainda estamos no principio!)
Vem Guido, para “normalizar” a situação, e vem Illia, em 63. (De notar que nenhum destes nomes é novo na altura em que aparecem na História das Mil e Uma Presidências, antes são regressos de outras derrotas e outras historias politicas argentinas.)
Novo golpe em 66. Ongania sobe poder – este foi o tema da minha apresentação hehe – e revela-se (surpreendam-se) um ditador violento. Que cai em 70, com nova reacção militar.
Seguem-se uma série de presidentes efémeros, que se sucedem em carrosel, mais golpes, mais revoluções, Péron eventualmente regressa ao poder, volta a sair, e mais detalhes com o decorrer de mais aulas, que não há hora lectiva para tanta revolução politica.
Aperceberam-se? Peron. Deposto. Frondizi. Deposto. Illia. Deposto. Ongania. Deposto. E por aí segue, com golpes de Estado e revoluções do “agora-é-que-é-que-isto-assim-não-pode-ser” intercaladas.
Não percebo. Como pode um povo que parece ter tão enraizados seus focos ideológicos viver duas décadas de tanta instabilidade e fracassos políticos? Talvez por isso mesmo?
Mas à segunda tentativa não parece óbvia a inevitabilidade de consenso?

Onde ganham a energia para tanta revolução, onde conseguem criar novos e originais pontos de descontentamento? (que se assim não fosse, o meu semestre de História bastava-se em três semanas)
Pergunto a argentinos, que dizem que o Povo não conhece a sua História, e afinal é tudo uma questão de fraca memória? Lutas movidas pela pasion? Indecisão ou decisão tão forte que não seja aceita centímetro ao lado?
Oh tio historiador (sim, miguel freitas, é consigo), tem alguma luz para mim nesse imenso arquivo intelectual, ou terei de continuar em busca e fonte directa? Mas as vozes são tão frescas ou tão esquecidas, que não sei se por aí virá luz clara.
Meu povo argentino, alguém me explique o teu modo de pensar, que ainda me quedo pasma às charadas.
Bom complexo povo, minha querida labiríntica Alma Argentina…

sábado, 20 de octubre de 2007

inauguração do ciclo

O calor começa a chegar, na sua peculiar maneira de ser, entre tempestades semana sim, semana não – agora compreendo o conceito de clima tropical, uma chuva pesadíssima e um calor que o é mais, a roupa a colar ao corpo, o corpo a colar ao chão. Nem a ligeireza de uns chinelos, que dão à cabeça sensação de soltura, nos valem.
Vem chegando o Novembro, e mais confusa fico… Natal, no verão?? Férias de verão, agora?? Dezembro de chinelos e bikini?? Creio que vou andar meio aparvalhada com as trocas de associações.
Com a expectativa de férias, vêm os planos…
Bem, verdade seja dita, é mais uma necessidade de férias, que expectativa delas, afinal ainda falta um mês e meio… mas o mês de sol que deixei para trás, o mergulho directo na água fria das aulas, a imensidão do continente, o sonho desta viagem, e liberdade, a possibilidade, o afinal “está tão perto”… passei as ultimas 4 noites especada frente a um mapa da Sudamerica.
E mais novas concepções entram. Se eu andar 15 horas de carro, em quase qualquer direcção, não chego a sair da Argentina. O nosso Porto, ou o nosso Algarve, para esta malta é um Cascais onde se vai passear aos fins-de-semana. E três meses e meio já não parecem afinal a eternidade do principio.
O meu dedo indicador já fez esta viagem no mapa un million de vezes, e sempre por sentidos e rotas contrárias…
Mas vou agora na próxima 4f abrir oficialmente o ciclo de viagens, com um pulinho em Puerto Madryn.
Fica no sul da Argentina, e é um achado de fauna que foge ao conhecimento da minha portuguesidade. Há as baleias, na febre primaveril dos ritos de sedução, à superfície da água… e há os pinguins, e os leões marinhos, e os lobos do mar. E há o mar! Não conheci ainda um português (e já conheci vários) que não sentisse saudades do mar…

Sabem aqueles pontos brilhantes do Tejo, num dia de sol? Aquelas luzinhas de reflexos, tremelicantes, que fazem parecer bola de espelhos, e que salpicam toda a cidade, porque espreitam entre cada ruela em esquina plantada? A luz de Lisboa é diferente de todas...

Cá trarei a luz de Puerto Madryn, veremos como reflecte o sol na pele de uma baleia.
Enquanto não, cá volto ao estudo, que tenho o último teste na segunda, e ainda nao comecei...
beijo beijo
Até já



À noite, dizem que na praia, em silencio, se ouvem as baleias respirar…

viernes, 19 de octubre de 2007

toque rápido!!

Meus queridos caríssimos

Muito zurzida pela ausência prolongada nestes escritos e cozinhados… mas uma pessoa não pode estudar? Esta vida não é só farra, e este mês é de avaliações!!

Por hoje fica este toque, prometo esta noite roubar meia hora e publicar alguns avisos e relatos do meu moleskine, à espera para saltar páginas fora.

O toque é este…

http://clix.visao.pt/default.asp?CpContentId=334616

Afinal, não foi dia 17, mas a seu tempo sairá…. Atenção!! Há uma fotografia muito interessante pelo meio!! Onde está o Wally? Quem descobrir primeiro, ganha um mail de duas páginas, haha!!

Um abraço ao Miguel, que se perdeu de amores por esta Buenos Aires - desgostos amorosos só se curam enfrentando o objecto amado hahaha... serás sempre benvindo!

jueves, 11 de octubre de 2007

Flirt em Saxofone

Eu não vos dizia*?

(desculpem, vão ter de virar a cabeça...)

* ver post anterior (haha não têm remédio!)

Os diferentes, os estranhos e os locais

Numa fase em que já me sai um “che” natural quando falo com alguém (“che, que tal?”, “che vení a mi casa”, che isto, che aquilo, me encanta!), já abrevio Direito para dcho (e não dto) sem pensar, e já vou dando por mim a falar sozinha com algumas exclamações mais sentidas em castellano (estou a sentir-me uma perfeita emigra)… muitas outras coisas são também normais e não me saltam à vista.
Todavia (outro tique de linguagem muito emigra) queda por contar uma série de pormenorezinhos deliciosos (ou só diferentes, e perfeitamente aborrecidos) das esquinas e dobras de Buenos Aires. Como quando saímos a Espanha e percebemos que comem pão de borracha; ou a outro lado qualquer e reconhecemos tão tuga o restaurante do bitoque e da bica a cada esquina (O Sousa, O Almeida, A Parreirinha de Alcântara, do Rato, O Zé dos Frangos, O Zé dos Bifes, O Manel, A Maria, e por aí seguem…).
Detalhes e pormenores desta cidade… para baixar à terra da normalidade, e quotidianizar o escrito.
Por onde empezar?
Ah, claro, o café, básico de tanto tuga, pedra toque e chave de sobrevivência de muitos e de mim, para quem e sem o qual o conceito de dignidade humana não existe. E à volta do qual gira todo um mundo de vida social.
Aqui, nada de bica espessa e curta ("cheio e sem açúcar!"); vem um baldinho de café-água, feito em casa, que sorvo com algum espírito de sofrimento e resignação. Mas alegrem-se os espíritos, não há um único sítio (um!) que não faça acompanhar o café de um prato com mini bolachas/docinhos/something, e um copo de água… com gás! (Ah, boas tardes perdidas no Príncipe Real a pedir copos de água até às 7 da tarde, todavia sem sucesso)
E pelo caro que é (o mesmo preço que um maço de tabaco… 90 centimos de euro), ninguém leva o “vamos tomar um café?” no bolso para todo o lado (amigos, namorados, reunião, conversa, atrofio, só para sair de casa…). O encontro social – o café que toda a gente toma, mesmo que não o beba efectivamente – é o Mate, e toma-se nos parques, partilhado entre todos. Ouvido de passagem que 90% dos argentinos tomam mate. Calculo que os 10% resistentes sejam as crianças e alguns alérgicos à erva (seguro que los hay). Bebe-se num copo especial – parece um vaso de bardo -, com uma “palhinha” de metal, e tem o kit do termo de água quente atrás, porque o copo enche-se de erva até acima, e a água vai-se juntando aos poucos. A imagem é um encanto, e o ritual, um verdadeiro ritual. Total sinónimo de “estar”.
O leite com chocolate chama-se submarino, e é um copo de leite com uma tablete de chocolate massiva mergulhada no dito; e não se fuma em lado nenhum (alegre-se minha Mãe) desde a lei Buenos Aires Livre de humo, de Outubro do ano passado. Curiosamente, o único lugar onde esta lei não se cumpre … é na Faculdade Direito! Extraordinária noção do Bem, do Direito e da Justiça (estou a ser profundamente irónica, para quem não leu nas entrelinhas).
Seguindo o caminho dos cafés e hábitos associados, passo a informar também que o pastel de nata, o bolo de arroz, e o não menos garboso queque, são aqui gloriosamente substituídos pelas medialunas – mini croissants de uma massa tão boa que se comem sem nada. Gloriosamente, porque há sempre, há muitos, e há em todo o lado.
Tique de cultura, que sé yo? Aquí o que é bom e prático, há por todo o lado, e há só isso. Vejamos os kioskos.
São pequenas lojecas de conveniência – nunca o termo castellano tienda teve tanta plenitude – e vendem tudo o que uma pessoa precisa num momento de aflição, 24h. Vejamos… tabaco, chocolates, sugus e caramelos, barritas de cereais, chocolates, chocolates, chocolates. E cartões de saldo de telemóvel! Há uma média de dois por quadra, e às vezes mais. O que se demonstra pelo facto de, quando vamos jantar a casa de alguém, e queremos levar uma garrafa de cerveja ou vinho (o item que me faltava!), nos subúrbios dos subúrbios, não nos preocupamos com o gesto antecipado, porque seguro, seguríssimo!, que há um kiosko à porta visada.
Falando em cartões de telemóvel, também esse tema é muito próprio. Assim, quando não tenho saldo no tlm, vou a um quiosco, compro o cartão, raspo o código, ligo ao apoyo al cliente, et voila!, crédito no celular outra vez!
Mas calma… os pormenores aborrecidos e sem interesse nenhum que tenho para vocês não se ficam por aqui! Vejamos: há bancas de flores em cada passeio, 24h por dia – quiçás pelo feitio marialva dos argentinos, e mais ainda dos porteños, faça algum sentido vender flores às 5 da manhã, para eventuais, senão prováveis, necessários pedidos de desculpas; os carros não param nas passadeiras, mesmo que esteja verde (branco!) para os peões; os táxis são aos pontapés; e é normal e próprio de todos os argentinos, no matter idade, classe social ou educação, ouvir putear – meaning dizer palavroadas "de fazer corar um carroceiro"; os pintas argentinos usam óculos escuros na discoteca (pronto, até aqui é meio parvo, mas não são 1 nem 2 nem 3!); em todas as esquinas, ao lado dos kioskos, há locutórios (net e telefone); não há o conceito das lojas dos chineses, mas há o dos supermercados dos chineses; o autocarro só vende bilhtes a solo (não existe também conceito de passe) e com moedas, o que implica ficar apeado quando não há cambio nas carteiras – o que é uma chatice, e uma realidade, porque o défice de moedas é tal que ninguém em lado nenhum nos troca as notas.
E o empregado do café que flirta descaradamente qualquer mulher que se sente e peça, é normal e parte de aqui – agora mesmo…
Falando de empregados, e generalizando um pouco a ideia (metodologicamente, Savigny diria que é isto a tópica e o meu prof. de filosofia acusar-me-ia de generalização falaciosa; eu digo que é mesmo assim, está no sangue argentino!), os argentinos, e os porteños mais ainda, são uns sedutores natos. Não tanto em qualidade do paleio (não podem querer tê-lo todos, não é?), senão pela sua naturalidade, e quantidade de vezes que o entabulam. Metem-se sempre (sempre!): o taxista, o homem do kiosko, o rapaz que vai a passar na rua como outro qualquer, o hippie que faz brincos artesanais, o rapaz que te atende na loja. Uma amiga minha ficou com o numero do funcionário do banco que a atendeu! Mas com uma “gracia”, que torna a coisa num cumprimento - maior boa onda, o “não, não” é respondido com um sorriso, sorriem de volta bastando-se com isso, e seguem caminho.
Nada disto é exclusivo de minha descoberta. Conheci um rapaz simpaticíssimo numa festa, igualmente atrevido (daí partiu a conversa) e gay (aha, antes deste ponto pensavam que era engate, não era? Tsss não têm remédio seus alcoviteiros!) que me dizia, a páginas tantas, isso mesmo: o argentino rege-se pelo lema Veni Vidi, no que toca à mulherada (o vici requer mais arte). E se na rua, somos abordadas das mais variadas maneiras, e metade delas têm graça e nos fazem rir, numa festa o ataque é cerrado e chega a ser cansativo, porque não há rabo de saias que escape à arte de bem/mal falar.
“Pero Catarina, yo te digo” – respondia-me o meu amigo – “yo estuve en el mundo… y no hay hombres más lindos que los argentinos!!”. E não é que pode ter alguma razao?

E aqui suspensa, me retiro... é que me estão a tocar à campainha, e outro pormenor perfeitamente (este sim) absurdo é que, por segurança, não há mecanismo para abrir as portas da rua directamente dos apartamentos. Meaning, descer 6 pisos. Imaginem um jantar de 20 pessoas!


ps. dia 17 tudo a comprar a visão. logo perceberão!
pps. vou ver as baleias dia 24, ao sul da Argentina! Primeira saída oficial!

martes, 9 de octubre de 2007

A toalha dos pés ou O eterno "porquê, porquê, porquê?"

A bonança, depois da tormenta (ditos da minha Condessa de Ségur, que ficam depois da infância).
Como num casamento. Ou qualquer outra relação a largo tempo e menor escala.
A eterna guerra dos sexos, o incontornável choque de naturezas; somos afinal duas espécies diferentes?
Passou o primeiro mês, e com ele, como em qualquer relação de todos os dias, a descoberta dos lados lunares.
Dias de humor mais negro, vontade de gritar às almofadas, impassíveis, de sair de pijama à rua e entrar na porta ao lado, tentação de lá ficar, em qualquer porta de qualquer lado. As primeiras manhãs passei-as de olhos arregalados ao gestos de cada um, as seguintes reagi contra alguns, em evolução crescente do pedir para o perder a cabeça, e agora, reconheço que há coisas que não são discutíveis ou sequer susceptíveis de ceder: são assim e ponto.
E a tormenta passou, com um respirar mais fundo, e um pensamento de fair-play, afinal, casámos por um ano, e passado apenas um mês, a esperança é larga, a vontade tem muita força, e os lados lunares de cada um são inevitáveis e fazem parte.
E afinal, não é mais nada que ultrapasse a equação 1 vs 3. Es decir, se pensei um dia ou muitas vezes que as miúdas são difíceis, quando não são insuportáveis (e mesmo assim, tão encantadoras, não somos?), passou-me ao lado que viver com três homens, sendo mulher, não é as peace of cake as I though – logo eu, com dois em casa!
Haverá quem me responda: afinal, somos duas espécies diferentes?, estudadas em separado daqui a muitas eras por arqueólogos de outros ciclos?
Na minha aula de espanhol (a qual já abandonei, porque, a professora que me perdoe, não aprendi em três aulas mais que em dois dias na rua), uma das perguntas da ficha para treinar os pronomes era ironicamente a seguinte “Vos entendes a los hombres?”, ao que a resposta invariavelmente disparava “no, yo no los comprendo”. A pergunta era repisada, e a resposta parecia ser um dado óbvio.
A verdade é que não consigo ser original neste assunto, e viver o dia-a-dia não me desvendou nenhum segredo dos deuses, senão me desvendou apenas a existência de muitos mais – indecifráveis criaturas, charadas da Mãe Natureza.
Vamos lá a ver: sim, são simples, incrivelmente simples, numa boa maneira que Elas não conhecem. E numa incompreensível, também.
Ouvido de passagem.
“Precisamos de comprar uma toalha para os pés, para a casa de banho” (uma ela); “Para quê gastar dinheiro numa coisa que vai ter os meus pés durante 5 segundos?” (um ele, em resposta genuína).
Ok. Clara incompatibilidade de conceitos.
Afinal, somos mesmo duas espécies de uma classe humana? Teremos visões assim tão diferentes do mundo – do quotidiano e do mais profundo?
Ouvido de passagem.
“Porque é que deixas os sapatos sempre no meio da sala?” (uma ela); “Que há de mais prático que ter os sapatos a caminho da porta de casa, para quando sair, calçá-los directo para a rua?” (um ele, em crédula teoria).
Do modo como vivem o espaço à maneira como vêem a vida; da despreocupação com mil detalhes, à facilidade com que põem uma t-shirt lavada na mochila e partem à aventura, do sentido prático numas coisas, à falta dele noutras tantas. Quem são vocês e porque são tão diferentes de mim?


Há perguntas que mais vale não serem feitas. Não terão resposta. Ou não as compreenderemos.
E com muito do tal fair-play, e uma boa dose de paciência de mãe, lá vou conseguindo viver com estes meus três Anjos sem guerras. Com muitas manhãs acordadas incrédula, com muitos suspiros no ar de total incompreensão… mas, vivendo com os lados lunares que nem em Marte se tocam, vivo também com o melhor desta Natureza, aproveitado para mim. Com as gargalhadas a toda a hora, com a simplicidade desprendida, complicada por nós, com o bom humor escorregadio, fluente. Com uma boa despreocupação, com os "bora lá", aqui e agora, sem planos. E com um equilibrio que foge do meu, e por isso, o é mais.

E esta casa vivida é assim uma alegria.
Obrigada, meus pequenos.


ps. Aos que temiam La Boehme e um Direito a crescer torto, às bocas atiradas em tom de gozo e a todos vós, descrentes! Tive 9 no teste... em 10! Acho que vou sair a festejar!!!

Naaa.... tenho outro 4f! Ate já.


viernes, 5 de octubre de 2007

Onde a relva não é tão verde também faz sol

Uma vez mais, a cultura do parque. O que se faz num sábado de sol?
Já sabem a resposta, deliciosamente repetida, repetível.
Fomos passar o último sábado fora do centro da cidade, a Olivos, paragem de comboio já qualificável como subúrbios.
Um verde sem fim, não tão berrante como o outro, que a relva é cara e custa manter (e afinal estamos nos subúrbios) mas duplicado em tamanho, e com a cidade ao fundo, em papel de cenário, a dizer “é bom aí, não é?”.
Que bem que se está no campo, Adelaide!






Viaje a Olivos.... há coisas que não mudam com os continentes, one of those, o género musical da rede ferroviária! Estão o bando Xu completo, a Alicia, a Mel, a Paula, o Ivan e o Brian - tudo malta de engenharia! et moi, a intrusa mais oficial - já contam comigo e tudo!
estes dois são os rapazes que trabalham no Gabinete de Alumnos extranjeros na faculdade deles, e ao contrário do meu pacato e semi-invisível Martin, em Direito, estes dois organizam jantaradas, futeboladas, ligam, convivem, fazem, acontecem, põe-nos a fazer parte da movida porteña! Chamo-lhes o Pai e Mãe de seus hijos extranjeros, comparação que eles recebem com desportivismo, e já lancei a polémica sobre a atribuição dos papéis no "seio do núcleo familiar".
Muito boa gente. Argentinos de gema, e - parece-me - apaixonados também pelo resto do mundo.



(parque de olivos, miguel, alicia, ivan e francisco, miguel again)






martes, 2 de octubre de 2007

Cena de Chicas

Buenisimo!
Em vã promessa e proyecto no ar durante muitas, várias semanas, andava a ideia de juntar as miúdas todas e fazer um jantar da mulherada. Pôr mensagens a correr, troca toque e passa-palavra, e acabarmos todas – as titulares de direito de autor, e todas as que, de uma maneira ou de outra, saibam da cena de chicas e queiram aparecer - num restaurante charmoso a galhofar em boa histeria feminina, entre má língua, temas sérios, amena cavaqueira enfim, regada a bom vinho – já que temos a francesa Capucine, que parece ser entendida!
A mim, parecia-me genial! Porque gosto de uma boa jantarada de mulheres, da conversa, da gozação, dos típicos lamentos e mais típicos oxalás, do riso que se espalha pelas outras mesas, impossível de ignorar – uma mesa de mulheres enche uma sala! -, e em termos mais práticos, porque conhecia a ala feminina de direito, e pelos meus rapazes, a ala feminina de engenharia – tenho a sorte de ter acesso a dois mundos, e entre os quatro, conhecemos mais gente. Entre outra ponta solta, aqui e ali, numa festa, numa tarde, amiga de amigo de amigo… dispersas, éramos matéria prima para uma noite fabulosa.
A ideia começou, atirada em algumas mesas de café, a ganhar algum entusiasmo – extraordinária solidariedade espontânea feminina que parecia nascer em cada proposta.
Buenisimo, juntámo-nos as 15 que puderam ir. De Direito, de Engenharia, de Economia, locais, e uma a fazer mestrado de Línguas. Não me perguntem o como da receita. Fomos todas lá parar!
Alicia (Barcelona), Ainoa (Madrid), Melanie (Tolouse), Nathalia (São Paulo), Paula (Buenos Aires), Xaviere (Bretanha, França), Cynthia (Tolouse), Capucine (Paris), Isabela (Buenos Aires), Margaux (Francia, não sei de onde), Christina (Alemanha), moi même… (faltarão nomes para os quinze...?)o certo é que poucas sabíamos muito umas das outras, muitas nunca nos tínhamos visto, e foi uma cena animadíssima, cheia de boa conversa, bom atrofio, bom vinho (?) e boas, muitas fotografias.

Acabamos a noite numa festa de uma associação de repúblicas para estudantes e nos quedamos a dançar toda a noite, na maior animação! As maltas respectivas (os rapazes discriminados de direito, de economia, de engenharia, e outros soltos e soltas que, por qualquer motivo não jantaram – o motivo dos rapazes é obvio, não?) juntaram-se às tantas a nós na festa, e foi uma noite divertidíssima!

Cá vão algumas…

da esquerda para a direita, margaux, chloe, paula, alicia, ainoa, cynthia, eu, isabela, xaviere. À esquerda, em baixo, natália, e em cima, à direita, capucine e melanie!



Mais, soltas.


margaux, chloe, capucine, isabela!


eu e a ainoa, grande miuda!


mel e alicia!!



as que já apareceram, à entrada da festa!!





mais das marias chicas!!




Minha querida Chloe et moi, no final da noite; a fotografia já tipica, a uma hora a que sempre nos encontramos, no fechar das portas!


Grandes miudas, estas!
Firmámos un contrato, solenemento lavrado e comprometidamente assinámos, cada jueves si, jueves no, "a cenar con solemnidad y mucha buena onda (y mucho encanto tanbién) para tomar, hablar, bailar, y romper los corazones masculinos".
A manhã foi acordada com algumas dores de cabeça, e a boa disposição de um achado na vespera!
Muito bom achado, grandes miúdas, estas minhas!