martes, 9 de octubre de 2007

A toalha dos pés ou O eterno "porquê, porquê, porquê?"

A bonança, depois da tormenta (ditos da minha Condessa de Ségur, que ficam depois da infância).
Como num casamento. Ou qualquer outra relação a largo tempo e menor escala.
A eterna guerra dos sexos, o incontornável choque de naturezas; somos afinal duas espécies diferentes?
Passou o primeiro mês, e com ele, como em qualquer relação de todos os dias, a descoberta dos lados lunares.
Dias de humor mais negro, vontade de gritar às almofadas, impassíveis, de sair de pijama à rua e entrar na porta ao lado, tentação de lá ficar, em qualquer porta de qualquer lado. As primeiras manhãs passei-as de olhos arregalados ao gestos de cada um, as seguintes reagi contra alguns, em evolução crescente do pedir para o perder a cabeça, e agora, reconheço que há coisas que não são discutíveis ou sequer susceptíveis de ceder: são assim e ponto.
E a tormenta passou, com um respirar mais fundo, e um pensamento de fair-play, afinal, casámos por um ano, e passado apenas um mês, a esperança é larga, a vontade tem muita força, e os lados lunares de cada um são inevitáveis e fazem parte.
E afinal, não é mais nada que ultrapasse a equação 1 vs 3. Es decir, se pensei um dia ou muitas vezes que as miúdas são difíceis, quando não são insuportáveis (e mesmo assim, tão encantadoras, não somos?), passou-me ao lado que viver com três homens, sendo mulher, não é as peace of cake as I though – logo eu, com dois em casa!
Haverá quem me responda: afinal, somos duas espécies diferentes?, estudadas em separado daqui a muitas eras por arqueólogos de outros ciclos?
Na minha aula de espanhol (a qual já abandonei, porque, a professora que me perdoe, não aprendi em três aulas mais que em dois dias na rua), uma das perguntas da ficha para treinar os pronomes era ironicamente a seguinte “Vos entendes a los hombres?”, ao que a resposta invariavelmente disparava “no, yo no los comprendo”. A pergunta era repisada, e a resposta parecia ser um dado óbvio.
A verdade é que não consigo ser original neste assunto, e viver o dia-a-dia não me desvendou nenhum segredo dos deuses, senão me desvendou apenas a existência de muitos mais – indecifráveis criaturas, charadas da Mãe Natureza.
Vamos lá a ver: sim, são simples, incrivelmente simples, numa boa maneira que Elas não conhecem. E numa incompreensível, também.
Ouvido de passagem.
“Precisamos de comprar uma toalha para os pés, para a casa de banho” (uma ela); “Para quê gastar dinheiro numa coisa que vai ter os meus pés durante 5 segundos?” (um ele, em resposta genuína).
Ok. Clara incompatibilidade de conceitos.
Afinal, somos mesmo duas espécies de uma classe humana? Teremos visões assim tão diferentes do mundo – do quotidiano e do mais profundo?
Ouvido de passagem.
“Porque é que deixas os sapatos sempre no meio da sala?” (uma ela); “Que há de mais prático que ter os sapatos a caminho da porta de casa, para quando sair, calçá-los directo para a rua?” (um ele, em crédula teoria).
Do modo como vivem o espaço à maneira como vêem a vida; da despreocupação com mil detalhes, à facilidade com que põem uma t-shirt lavada na mochila e partem à aventura, do sentido prático numas coisas, à falta dele noutras tantas. Quem são vocês e porque são tão diferentes de mim?


Há perguntas que mais vale não serem feitas. Não terão resposta. Ou não as compreenderemos.
E com muito do tal fair-play, e uma boa dose de paciência de mãe, lá vou conseguindo viver com estes meus três Anjos sem guerras. Com muitas manhãs acordadas incrédula, com muitos suspiros no ar de total incompreensão… mas, vivendo com os lados lunares que nem em Marte se tocam, vivo também com o melhor desta Natureza, aproveitado para mim. Com as gargalhadas a toda a hora, com a simplicidade desprendida, complicada por nós, com o bom humor escorregadio, fluente. Com uma boa despreocupação, com os "bora lá", aqui e agora, sem planos. E com um equilibrio que foge do meu, e por isso, o é mais.

E esta casa vivida é assim uma alegria.
Obrigada, meus pequenos.


ps. Aos que temiam La Boehme e um Direito a crescer torto, às bocas atiradas em tom de gozo e a todos vós, descrentes! Tive 9 no teste... em 10! Acho que vou sair a festejar!!!

Naaa.... tenho outro 4f! Ate já.


3 comentarios:

Jo dijo...

Cate!!

Vi este anuncio e nao pude deixar de me lembrar de ti!
"Sábado, 21 de Otubro, tango argentino na aula magna!"

Fica o anúncio!

Beijinho!

Jo dijo...

Cate!!

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Beijinho!

madalena dijo...

Pois é,Joana,parece que la vamos estar todos,dia 21 na aula magna,em memoria da nossa cat!;)
besso(é assim que se escreve?)