miércoles, 31 de octubre de 2007

Butch Cassidy's Patagonia, part II

Pampas

Aprendi-as no banco da frente do autocarro, como a ver um bom filme, através do vidro gigante da frente.
As Pampas.
Parece que Deus se cansou de inventar relevos e geografias, e chegando à Patagónia, desenhou simplesmente uma linha recta no chão - linha que o Homem imitou na estrada nacional paralela ao horizonte, sem um troço de desvio ou hesitado.
A linha do chão não se detém, não se quebra, não acorda da sua rectidão. Se projectarmos o olhar em tiro seco a rasgar o chão, não é parado nunca por obstáculo algum, e a linha do horizonte fica mais longe que em qualquer outra parte do mundo. Em todas as direcções. E apetece voar rente às ervas rasteiras em velocidade e de olhos fechados, com a segurança das Pampas de traço deitado, que não muda, não varia, só se estende sem parecer acabar.
É impressionante como te sentes pequeno nas Pampas. O olhar tem de galopar em dobro para chegar ao fim, e o raio de visão é tão largo e tão amplo que faz o mundo parecer maior, e eu nele tão mais pequena…
E não é o nosso Alentejo, com as planícies suavemente animadas por curvas calmas de corpo de mulher. Em que o mesmo olhar pregado na janela do comboio vai baloiçando, flutuando, balanceando, ao ritmo da linha do chão, e o movimento é mais natural.
Aqui nas Pampas, a linha recta é abrupta, absurdamente recta, directa, direita. E não admite capricho da natureza a adoçar-lhe as medidas. É quase violenta sua constância.
E bom, a estrada não tem curvas também, durante 18 horas de caminho, com a mesma disciplina da paisagem.
As Pampas, aparentemente aborrecidas, impõem-se com respeito. Com quem “aqui me tens, estendida a teus olhos”, parecendo todas tuas, e ao mesmo tempo, tão inacessíveis, e tão indiferentes à tua passagem.




Las Pampas



Las Pampas, vistas num vidro cheio de mosquitos.

2 comentarios:

BG dijo...

Que garotos! Isso é estrada para irem a 200 à hora!

Unknown dijo...

Deve ser de dormir ao volante. Já as sobrevoei as tuas Pampas. Melhor do que dezoito horas de viagem mas, provavelmente, menos sentida, a imensidão.