sábado, 1 de diciembre de 2007

Dois lados da mesma (?) moeda

E assim é Latinoamerica. Diferente.
Tinha o jornal na mão e um Chavez que não compreendia. Continuo sem compreender muito bem, mas já tenho mais luzes ao palco das coisas.
Chavez chama ao ex de Espanha fascista, em plena Cumbre Internacional. Chavez discursa aos media contra Espanha e seu sistema, contra o colonialismo e seus protagonistas. Cortou relacoes com Espanha e com a Colômbia. Chavez fechou um canal de televisão. No país de Chavez não há BDs satiricas no fim dos jornais. Chavez cultiva a sua personalidade de líder salvador ao jeito antigo. Chavez faz o que quer e diz o que lhe apetece. Chavez vai por ele, e nesse ‘ele’ presume a voz de muitos. Afirma a doutrina do homem novo, calculo eu, inspirado nele próprio. E agora no próximo domingo, vai a referendo uma tal de proposta de reforma constitucional(apresentada e defendida por ele), que lhe dálegitimidade passada a papel timbrado para se manter no cargo ad eternum. Que aumenta o mandato para 7 anos, que admite recandidaturas sem limite, que concentra mais poder no Presidente . Que abre espaço a uma propriedade privada desprotegida, a uma noção de liberdade de expressão mais relativa. Ah claro, o senhor não é tonto: na mesma reforma em bloco, vem a mudança da jornada laboral de 8 para 6 horas.
É um quilombo, esta reforma, tem uma dimensão…
Pergunta: Chavez é um (potencial) ditador?
Resposta de um americano: sim, sim, sim. Totalmente. Não lhes cabe na concepção um tipo tão… presente (já ouviram falar do politicamente correcto?). Nem que existam pessoas a viver do estado. Nem que não possam despedir as pessoas so porque sim, nem que haja censura aos media.
Resposta de uma voz argentina, mais, ou menos original, still surpreendente à minha mentalidade europeia: Y que les importa a los venezuelanos la liberdad de expresion? Si hay trabajo, apoyo social, si las clases obreras y trabajadoras tienen condiciones… que es la liberdad de expresion en todo eso?? Que importa si el tipo ese se queda en el poder toda la vida?? El pueblo esta contento…
Calma. Arrisco-me a duas coisas, a entrar por este caminho. Primeiro, a dizer algumas asneiras, na minha ignorância de quem acaba de conhecer o mundo latino como ele é. Limito-me então a debitar opiniões inesperadas, vozes de cá, parciais e contextualizadas. Mas que conhecem a historia, mais ou menos condicionadas pelo meio, pela posicao, e reconhecem os feitos, as necessidades, as mentalidades, as culturas, e tudo o que por aí se pode concluir.
A segunda é a tornar-me profundamente aborrecida aos meus queridos com este tipo de contos. E quanto a isso, sorry. Mas vão ter que me gramar. Truth is, o meu bichinho jurídico-político anda agitado com tantos novos lados de uma cultura. Saltam-me à cabeça traços destas gentes como sociedade. Mais profundos, mais políticos, mais sociais, mais enraizados, e mais difíceis de apreender à primeira vista – é muito mais fácil dar-me como apaixonada por Buenos Aires por si, que entender afinal a alma da Suramerica. Seems obvious.
Então, parece que o dito senhor fez muito bem a muita gente – dizem alguns, que eu não sei, e tenho as minhas reservas. E que levanta alma venezuelana. ‘Filhos de Bolívar’. E depois, a guinar noutra direcção, um venezuelano no La Nacion: Chavez só é bom para quem trabalha para o Estado.
E Chavez quer iniciar uma verdadeira reforma socialista – seja lá o que isso queira dizer nas suas entrelinhas.
Por outro lado, temos a Bolívia, que esta entalada numa reforma da Constituicao mal amanhada num processo duvidoso, com as mesmas bandeiras: aumento do mandato, recandidatura ilimitada. Sublinhado o modelo interventor. E dois terços do país – os sectores que detem o poderio económico – em greve geral, por isso. Ecuador (ou São salvador? Não tenho aqui o jornal…) tem uma reforma constitucional em curso também… vá-se lá saber em que direcção(!).
E há o outro lado, o americano, que não percebe isto do Estado de Bem Estar, que o despreza, o atribui à preguiça da gente. Isto a propósito de uma conversa ontem com os dois lados em cima da mesa.
No seio de uma Suramerica rebelde (como próprio Chavez se denominou), com el Che em mente, busca-se um modelo de Estado-pai, Estado central, Estado que sai das suas linhas mínimas para se expandir ao detalhe, aqui melhor considerado que a busca de um modelo mais liberal. A classe média não existe, e os fossos entre os ‘muito muito’ e os ‘muito pouco’ são os maiores do mundo… e surge o antinorteamericanismo, antiliberalismo.
A questão é: que duas visões tão diferentes, que conceitos tão antagónicos. E que contextos tão incompreensíveis para cada lado contrário. Sinto-me a descobrir uma nova ‘guerra fria’ escondida debaixo do chão – passe a comparação sem querer ir mais além.

E Chavez, afinal...?
Quero tentar perceber um bocadinho melhor isto da política por aqui… é tudo tão diferente…
Está confuso e está disperso. Mas também a minha cabeça em todo este palco. Vou tentando perceber. Vou comprando o jornal todos dias, e metralhando as pessoas com perguntas.

3 comentarios:

Unknown dijo...

E quem explica a esta menina que a liberdade de expressão não é uma figura de estilo que na falta dela muitas coisas que parecem verdade não o são?

É que com papas e bolos se enganam os tolos...

Tinha escrito um texto, muito sério, muito extenso,muito pensado que se sumiu no espaço sideral. Terá sido o Chávez...?!

MFA dijo...

Falta um e no texto anterior

Vasco Coelho dijo...

Alguns dos crimes de Chávez em: http://laredopina.blogspot.com/2006/12/presos-polticos-perseguidos-fallecidos.html