domingo, 16 de diciembre de 2007

meu lugar ao sol

Encontrei o meu lugar ao sol neste mundo. Vamos chamar-lhe simplesmente o Cabo – salvaguardo a tranquilidade dos que nele vivem.
Fica escondido atrás de uma duna imensa, numa língua de terra que sai da costa. Carros não entram, cabos de electricidade também não. O jeep da reserva natural leva-nos até lá a bom preço, e passado o declive, primeiros sinais de população – se não contarmos com os dois leões marinhos refastelados preguiçosamente na areia.
São barracas. Romanticamente chamadas cabanas. Semeadas pela encosta da duna, construídas pelos pescadores, pelos hippies, pelos artesãos locais, pelos fugidos do mundo urbano – não é um exercício literário, a população é assim composta. E as barraquinhas de madeira foram mesmo construídas por quem nelas vive. A prová-lo, o clássico musiquear do martelo na madeira, a interromper o som surdo da praia aqui e ali e ali mais ao fundo.




Num seguimento da sorte incrível que tivemos toda a viagem, conhecemos um local que vivia por ali há quatro anos, das pulseiras e outras manufacturas. Que nos deixou ficar na barraquinha dele. Construída das suas mãos também, uns dois metros quadrados de madeira tosca pintada de cores vivas, por dentro uma casa de bonecas, as garrafas-velas, as panelinhas amolgadas, fotografias da família, longe, na civilização, mantas coloridas e gastas, as estantes visivelmente artesanais, a inspirar horas de concentração, e na ‘cozinha’, um mínimo poço – também saído das mãos do nosso anfitrião, Edy -, única fonte de água potável, doce, bebível. E para tomar banho, e para o ‘’autoclismo’’, e para lavar fosse o que fosse.
O pequeno pueblo de cinquenta pessoas é uma descoberta de sobrevivências. E de uma noção de desprendimento impressionante, porque ao lado da metade pescadora, há a outra metade que fugiu para ali há um par de décadas, construiu a sua barraquinha, e ali assentou raízes.
As ruas são de areia, a iluminação de rua limita-se aos farolitos de quem se passeia depois do jantar – umas artimanhas feitas de uma garrafa e uma mão de cera.

Vimos a puesta do sol em silencio, ao brinde de um vinho branco comprado no único armazém de comida do sítio (esqueçamos que o conceito de armazém implica uma certa dimensão) , num estado de alma-cheia Maior, e num dos únicos pontos deste lado do mundo onde se pode ver um por do sol mergulhante no mar – porque é ao contrário, faz sentido, não?? Também disso tinha saudades.

Jantámos camarões recém pescados, porque a pescaria foi farta e o excedente foi distribuído pela população.
Saímos a ver as estrelas que Buenos Aires não tem, que nem Lisboa.
E parti dali com a impressão de ter descoberto um lugar preferido no mundo.
Volto em Março.





2 comentarios:

Martim dijo...

Uau, que vista, que lugar, que inveja! Estás finalmente a viver a aventura que tanto querias - sem horários, nem limites. Espero que aproveites e te divirtas mas poupa energia para a tua chegada a Buenos Aires pois ainda tens de aturar os teus amigos que lá te esperam, hehe.
O meu exame de código de mota aproxima-se (5ªfeira) e acho que me sinto minimamente preparado para o fazer, mas é sempre bom praticar fazendo mais testes. Hoje não errei nenhum! (ok, só um, mas em 20 não é mau! As probabilidades de eu chumbar estão a diminuir :D) Não eras tu que também querias tirar a carta de mota? Lembro-me de dizeres que querias fazer comigo..mas o que aconteceu?! Buenos Aires serve de desculpa para este abandono?!..enfim, não se pode ter tudo, mas de vez em quando tens de rever as tuas prioridades, não é? er
O Natal aproxima-se e ainda não comprei nada para ninguém. Estou a deixar para a última como é habitual.. Vou oferecer coisas simólicas porque esta orbigação de comprar presentes irrita-me um bocado.. assim compro coisas mais baratas e, talvez, com mais algum significado.
Este ano não sei se haverá jantar de Natal afinal (lol); se calhar fazemos um lanche natalício ou então um jantar de dia de Reis o que também não é mau.
Bem, vou estudar minha aventureira das américas. Continua o relato!
Beso

madalena dijo...

Voltas em março, ponto e virgula: so se for cagente, q eu tambem quero participar um bocadinho dessas tuas aventuras!!tasse?
saudades da madulen querida!
Tio lilocas,apresse-se: Martim-1; Madulen-1; tio Lilocas-0!!