sábado, 26 de enero de 2008

Puff

24 de janeiro e 2008

(estrada Cusco - Nasca)

Anda Deus a brincar às ironias.
Sobrevivemos a tantas viagens perigosíssimas de autocarro na Bolívia, a tantas curvas apertadas, precipícios e ausencias e macadame.

Pois hoje, no Peru, a caminho de Nasca, num autocarro que cumpria os critérios mínimos de segurança, apanhei o maior susto da minha vida.

Sao seis da manha e estou sentada na berma da estrada, enfiada no meu poncho ao estilo refugiado, a morrer de frio, com os outros 50 passageiros. O autocarro está lá em baixo, a vinte metros de mim.

Pois chocámos de frente com um camiao a quem tinha saltado a roda (dizem...) e saímos da estrada.

Vinha meio dormida na semi-cama, que nao é mais que uma muito má cadeira reclinável, a estrada vinha em curva e contracurva paralelas ao precipício, o autocarro a abrir, eu a pensar 'este palerma deve querer atirar-nos a todos la pra baixo'.
Cinco e meia da manha. Meio dormida.
BUM!!
O autocarro perdeu a direccao, as pessoas comecaram a gritar, mochilas a voar pelas cabecas como bombardeamentos a cabeca da ainoa entre os bracos como mae gansa, o autocarro a cavalgar fora de pista.
BUM!!
Espreito pela janela, tudo negro, tudo escuro, e cada salto do autocarro, friamente calculava a distancia do precipicio, no folego suspendido e na expectativa racional de sentir o vazio debaixo das rodas.
A cada salto, bum!bum!, 'seguimos en tierra', bum!bum!, 'temos chao todavia'. Cada bum! durou meia hora, cada intervalo hora e meia.

Parou.
Respirar de alivio, confirmar que estamos em terra firme - como??
Depois de horas a acelerar nas curvas e contracurvas da montanha, tivemos a milagrosa sorte de ter o acidente em terreno mais ou menos bajo.
Nao sei como nao capotamos. O autocarro galgou metro e meio de monte de pedras, e parou la em baixo. Como??
Tenho uma boa estrela colada as orelhas.
A parte da frente ficou desfeita. Tivemos de sacar o motorista à forca de partir o resto que ficou de pe, em accao improvisada de deencarcelamento com as pedras do chao e restos de ferros partidos do autocarro que ficaram no caminho.
As tipicas velhas histericas a chorar do susto. Um bando de miudas pequenas mudas, em choque. Os Homens racionais a forca, em trabalho de forca para tirar o pobre motorista, meio inconsciente ja.

Esperamos que nos venham buscar, ja passaram quatro horas desde o maldito acidente - passariam 6 e meia ate que tivessem a brilhante ideia de nos tirar desse desertico meio-do-nada-que-nem-rede-havia.
Passamos um frio de gelar ossos, e alguma fome porque ninguem jantou - no fim la distribuimos umas bolachinhas ao jeito dos paes e dos peixes.
Sentimo-nos todos tao afortunados .... (meio espanholona esta palavra nao?)
Como nao havia um precipio, justamente ahi?
Como nao tombou o autocarro?
Como ao fim e ao cabo nao passou nada de grave? - fora o pobre motorista que tem as pernas em cheque.

Que boa estrela tenho agarrada as orelhas!!

4 comentarios:

Unknown dijo...

´Já falámos sobre o assunto, quase em directo, felizmente não em directo que não te soubesse sã e salva. Em qualquer parte do mundo, a qualquer hora e em qualquer momento. Sem angústias nem histerias, volta inteira. Volta muitas vezes e parte outras tantas.Um Beijo da Mãe (sempre com maiúscula)

Unknown dijo...

Corrijo - não tão em directo que não te soubesse sã e salva.

Zé SL dijo...

Lá diz o ditado: ao menino(a) e ao borracho Deus põe a mão por baixo. Parece que foi o caso ! Que continue com essa sorte / estrela que a tem protegido e que a vai proteger - estou certo - até regressar sã e salva ... porque, para além de muitas outras coisas, você merece ... Bjs do Pai

Lilocas dijo...

Mi sobrina afortunada
En última instancia, siempre es cierto que la suerte protege a los audaces, no ?...
besos