viernes, 14 de septiembre de 2007

Notável Tango

Os Bares Notáveis.
A lista de cafés/bares/”bodegas de picadas”, reconhecida em decreto como tal pelo governo de Buenos Aires. Notáveis.
Estão espalhados pela cidade, e reconhecem-se à distância. Fazem-se anunciar nas enormes vidraças com letras coloridas e florescas, num género saloon a lembrar antigo. São antigos, velhas casas de sucesso de outrora, por empanadas, fiambres, cervejas, ou só porque eram da época e faziam sentido nela. Em todos, o chão é preto e branco, num xadrez de tijoleira, azulejo, ou o que seja (não domino a nomenclatura da construção civil), as mesas e as cadeiras (e os armários, e o balcão corrido, comprido) são de madeira escura, e nas paredes espalham-se posters antigos, anúncios de outros tempos, por cima do balcão há canecas de cerveja e pelas mesas vizinhas passam pratos de petiscos, picadas tão espanholas, cerveja gelada, e todo o género de clientela – do antigo senhor que há 20 bebe o mesmo café na mesma mesa, ao jovem coroado em rastas e livro de filosofia debaixo do braço.
Entra-se num bar notável, e há logo qualquer coisa familiar. Não seja de admirar, todos eles e cada um têm uma História e mil histórias, e vivem agora todos restaurados, e com o mesmo encanto (quem sabe?) de outros tempos. A mesma agitação entre as vidraças, pelo menos. Quem vai pelo passeio, de noite, e passa por um bar notable, tem vontade de entrar. Não porque sejam os cafés mais giros de BsAs; não são. Por aqui, todos os cafés e bares e restaurantes têm um charme, uma pinta, uma classe, que o difícil é não gostar.
Mas o bares notables parecem candeeiros de rua, em grande ponto e com a agitação das cervejas douradas, dos verdes e encarnados dos pratos que voam nas bandejas para os apetites, do calor que atiram quando se abre a porta. E logo se volta a fechar na mola, que o encanto antigo destes notáveis deve guardar-se com o respeito dos mais velhos.

Bom, nestes notáveis há agora um apetitoso circuito de música, onde ao lado das mesas se desenrola um género. Anteontem, fui ao Bar Cao ouvir uma argentino-carioca cantar a mais doce Bossanova, e ontem, enfim, o Tango!
A cantante era postal também. A figura de uma tanguera. Vestido preto, com ar barato e bem intencionado, a lembrar tango de rua na sua melhor indumentária, os tacões altos e largos, um par de brincos vermelhão, encarnado-tango, cabelo preto a cair em caracóis pelas costas abaixo, a pronúncia do mais puro argentino, e o tango mais intenso, mais emotivo, mais invasivo em alma alheia, que as cervejas se quedaran mortas na mesa e as azeitonas esquecidas. Bom, talvez ela não fosse nada de extraordinário, e o tango seja mesmo assim, em toda a parte do mundo. Anyway, ela tinha graça, tinha raça, atirava piropos falados e lamentos resmungados entre os acordes, o guitarrista vibrava com sua viola-amante, e parecia mais alienado na música que ela, batia com o tacão no chão nos acordes mais altos, e todos nas poucas mesas em volta (outra graça dos bares notáveis é serem acolhedores na dimensão) se alienaram também nesse Tango.
O último tango foi da tal forma sentido na voz e na expressão, que também na alma, e Maia Varés saiu do “palco” (imaginem tudo isto num pequeníssimo café antigo, percebem porquê candeeiro de rua?) num choro contido e sorrido. Digo sorrido, porque o porteño que estava connosco me contou a sua versão argentina do tango, que é sério e solene como o fado, mas informal e popular como uma boa desgarrada. Que é um “tu” respeitoso, e que deve ser (ou é-o sintomaticamente) vivido dentro das memórias de cada um. Que todos os tangos falam a qualquer parte de nós, que há sempre uma ponta para um tango, e que chorar é tão normal, para quem ama o tango, que não chega a causar surpresa, senão cumplicidade. Choro Sorrido.
Assim o fado? A mim comove-me, e desde que aqui cheguei, leva-me às lágrimas. Sim, a saudade, doce tristeza portuguesa. Parece que estando longe, de repente o Fado se ri na minha cara, como quem atira velha verdade.
Bem, de volta à realidade, prometi a mim mesma estar atenta ao circuito, que se prolonga pelo menos até Outubro. E da próxima vez, levo câmara para vos trazer um bocadinho disto – ando sem bateria há dias, como uma boluda.
Jazz, tango instrumental, murga (?), e mais e mais tango instrumental.
Ah… o Tango!

6 comentarios:

Jo dijo...

Eram 17 da tarde, tinha acabado de chegar a casa e de me sentar tranquilamente no sofá para simplesmente ler os mails e pouco mais, mas o tudo que me faz fugir ao estudo.
Eram 17 da tarde quando cheguei de um almoço de domingo, almoço com família, com toda a conversa, boa disposição e cumplicidade dos encontros com os de sempre.
Eram 17 da tarde quando me lembrei tristemente que tinha mesmo de estudar, que me lembrei que estava a perder ponte lima e muito de Setembro pelo estudo, que me pus a pensar!
Eram 17 da tarde quando me lembrei de ti minha carmenzita! Devido ao estudo do nosso Direito, por ti tão apaixonadamente explicado e com tanto mimo me dás a vontade de querer estar na nossa faculdade (depois de ler o teu blog cada vez mais). Devido a talvez não estar a sentir esta paixão que me passas. Devido a um chapéu novo que comprei, devido a umas calças compradas a um argentino, devido aos óculos que tenho no carro, devido ao campo feito este ano (sem ti), devido… a tanta coisa!
São agora 19 da tarde, acabei de ler todo o teu blog, deliciada, encantada, com uma inveja enorme de também eu estar a viver todas essas aventuras tão bem descritas por essa desenfreada, e pelos vistos típica argentina, escrita, que tão bem a ti se aplica (tas na cidade certa!)
Acabei sim de matar um bom bocado de saudades, saudades tuas!
Mas começando pelo principio, pela tristeza de uma ‘não despedida’, de uma ‘não última conversa’, na faculdade, na rua, até mesmo, na tenda! De uma ‘não última mensagem’, que esperançosamente pensei receber com um ‘até já’ ou qualquer coisa!
Estou agora em regime (supostamente) de estudo, preciso de fazer duas orais, e a vontade é nenhuma… Leio nas tuas escritas a vontade que tens e fico mesmo contente, penso em tanta coisa em relação a mim, cada vez me pergunto mais acerca de ser ou não o curso certo, se sou ou não capaz, de tantas outras perguntas no fundo tão adolescentes! Penso numa conversa contigo, no que me dirias, no colo que me darias… Saudades Cate!
Mas bem, um campo de tremelgas muito bom, tremelgas muito “à frente” realmente, uma equipa de animação já tão próxima, e eu já uma animadora, estranho! Fizeste falta companheira de tenda e de tantas outras coisas!
Um resto de verão bem estranho, por Vilamoura, sudoeste, monte gordo… Estranho por ser tão de cabeça, e em vez de o acabar certinha dou por mim sem certezas nenhumas!
Poderia ficar a falar de mim durante bastantes paginas, tanto que tenho pensado, a tanto que tenho fugido pensar, conversas tantas que queria ter, tantas que não consigo ter! (olha que foleira, rimei! Ahah!)
Mas escrevo te com um motivo bem concreto. Primeiro uma despedida, mais um até já, que eu não cheguei realmente a dar! (triste cá me conformo!)
Segundo e após ter perdido meia hora a procura do teu site, mais duas horas para o ler do principio ao fim, tão freneticamente como o escreves, tão deliciosa e verdadeiramente como te demonstras, tão agradavelmente fiquei presa a toda essa paixão pelo mundo, por conhecer, por viveres! (ai que estou tão nostálgica, coitadinha de mim!), vou ser uma leitora assídua, qual "Berro"!

Bem, por agora fica um grande beijinho e um abraço dos nossos! (chamam me para jantar)
Espera por telefonemas e muito mais!

Vai ser estranho este ano, no 1º ou 2º ano, vai ser mesmo estranho não te ter lá!
Joana Machado

Martim dijo...

Então Cat..
Acabei de chegar de Ponte de Lima e estou realmente podrão de sono. Mas não me consegui deitar sem primeiro ver se havia uma nova "entrada" no teu blog. E havia! Uma sobre o tango! ah..doce tango.er
Vais mesmo começar a aprender a dançar tango, ou estás-nos a dar uma tanga? (puahah, percebeste?) er (Part II)
Enfim, Ponte de Lima não foi nada de especial. Estava muita (um exagero de) gente e a Madalena não se divertiu muito porque só estivemos com amigos rapazes. Mas olha, valeu a pena ir para conhecer o que eram estas festas do Norte de que toda gente falava..*bocejo*
O Lamy fez anos sábado (como sabes) e amanhã (segunda feira) vamos comemorar em sua honra num sítio qualquer. Já tenho algumas saudades dos nosso jantares.. contigo incluída e não só.
Bem, vou dormir. Ve la se de vez em quando vais ao messenger ou ao skype para podermos falar como daquela vez em Alcacer. Também espero comprar uma camara para que me vejas enquanto falamos!

Um cachucho (seja o que for isso) cheio de saudades.

Martim M.

Tomas Salgado dijo...

Minha querida demorei horas a ler cada palavra que escreves, a saborear cada descrição que fazes dessa tua maravilhosa Buenos Aires e depois disso ainda fui ler algumas das cartas que me escreveste há 4 anos quando estava eu desse lado do oceano. Ficou me em especial na memória uma que incluiu cd's de música, a nossa Mariza, e umas curtas metragens tuas que se não te envergonhassem até punha aqui! Mas ficam só entre nós! Fico mesmo contente por saber que estás a aproveitar tão bem essa tua aventura. Para pequenos lisboetas, um ano no Alaska ou um ano em Buenos Aires não é muito diferente, aliás ter os guts para saltar fora deste barco e correr o mundo não é para todos e fico orgulhoso da minha piquena que se atirou borda fora, tu que não sabias se conseguias. Tenho pena de não ter estado na festa de despedida e no aeroporto, mas lá está, estava nas minhas viagens por esse mundo. Fui até istanbul com passagem pela croácia e grécia, uma viagem de sonho. Veio depois que depois uma semaninha em New York em família!
Estas a sentir o poder de dominar uma cidade, um sitio que não é nosso mas que passou a ser, o orgulho em nós de poder dizer está é tambem a minha cidade, now my way around, que é uma das melhores coisas quando se parte à aventura. Tenho muitas saudades tuas e dos nossos encontros atarefados, sem tempo, dos tais cafés que tu falas e mensagens inesperadas. Este ano estivemos muito pouco tempo juntos, mas já percebi que com este teu delicioso blogue vou estar a par de tudo! Agora já tens tema para o teu livro, aquele que já te disse que devias escrever há muito tempo. Aproveita bem esses ares que te vão dividir a vida e serão sem dúvida um marco muito importante na tua vida, fala quem sabe. Um grande beijinho e para a proxima vai uma carta!

Unknown dijo...

cat, com a rotina a tomar conta de mim, a saudade aperta cada vez mais..valha me esta "porta" para esse mundo em que a vida parece correr sobre duas rodas a mil km hora. tento imaginar o que deves estar a sentir, é impossivel expressar essa intensidade em palavras, tento imaginar me ai contigo, o q teria sido se o meu medo de atravessar o oceano,deixar tudo para tras nao tivesse levado a melhor..admiro te por essa coragem que eu nao tive..
pesquiso varias vezes no google coisas sobre BsAs, desde fotografias, recantos, tradiçoes, gastronomia (so para veres a "falta" de tempo que tenho tido..anda bastante atarefada esta minha vida diga- se..) para estar ainda mais a par dessa cidade maravilhosa que espero q me des a conhecer na primeira pessoa daqui uns meses!
mesmo sem saberes tens me feito muita companhia cat, puxando agora um pouco ao sentimento digo te com cada vez mais certezas, conheço poucas pessoas q saibam argumentar/ engatar (entao nesta parte és fera!) levar a sua avante a melhor, desconheço melhor ouvinte e conselheira, nunca conheci alguem com tanta paciencia para mim (para os meus amuos e refilices), sao raras as pessoas com a tua garra e paixao pelo trabalho como tu demonstras, perco me a pensar em melhor companheiros de cafe e jantaradas, de praia e noites..mas sem sombra de duvida uma das coisas que mais me fascina em ti é o teu gosto de viver, a tua paixao pela vida que agora consegues transmitir a toda a gente, aos que menos te conhecem..foi essa energia que me contagiou, e folgo em saber que ja contagiou muita gente alem fronteiras!!
fica aqui um grd beijo para uma das pessoas mais especiais para mim, uma "daquelas que valem a pena".
keep enjoying:)

MFA dijo...

Onde foi parar o meu inspirado comentário de ontem sobre o tango?
Agora, já requentado e pós declarações inflamadas dos teus amigos, recolho-me `minha insignificância. Bem escrito, bem vivido, informativo e emotivo . Gostei.Imaginei.Menos euforia, mais concentração no tópico. Progressos.

madalena dijo...

Catarina, no outro dia(nao ha muito tempo), estava eu a passear pelas ruas de Lisboa com a Maria Czernin e ficámos petrificadas no meio da rua a olhar uma para a outra a pensar exactamente a mesma coisa. Um poster, colado num candeeiro de rua dizia o seguinte: TANGO ARGENTINO, inscreva-se ja nas aulas do(...)
E nao é que nos inscrevemos mesmo?!
Estou brincando, só mesmo para te dizer que nos lembrámos muito de ti e que estás sempre na nossa mente e nos nossos coraçoes!ahah!
beijoca laroca,madulen